ABRUPTO

13.7.13


 
 A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DO SINDICATO DO GOVERNO 


Deu-se há dias a primeira manifestação organizado pelo sindicato do governo. Não foi na rua, nem na Assembleia (nas galerias), nem às portas duma fábrica ou empresa, nem a cantar a Grândola, foi numa igreja durante uma missa. Não sei o que pensa o novo Patriarca, ou a Igreja, mas assistir à primeira manifestação pública do sindicato do governo durante uma missa coloca-lhe o dilema da lembrança de Cerejeira, presumo que lembrança muito mal vinda. Ele há cada uma, ir manifestar-se para uma Igreja durante uma missa, com dezenas de guarda-costas cá fora, é um penoso retrato do nosso sindicalismo governamental. No entanto, tem uma enorme vantagem sobre os grevistas da CGTP e da UGT, não perdem o salário de um dia de trabalho. 

A manifestação traduz um enorme suspiro de alívio com o retorno da “estabilidade” por parte dos de cima. Não é que António José Seguro seja visto como uma particular ameaça, mas os tempos não dão muita folga a brincadeiras e o recreio já está suficientemente preenchido. O susto foi grande e em tempos de guerra não se limpam armas. Acresce que nunca se sabe o que pode sair de eleições numa altura destas. Não é o PS ganhar que preocupa, bem pelo contrário, enquanto Seguro lá estiver as “crises” resolvem-se. É que uma derrota espectacular do PSD e do CDS, traria efeitos em todo o sistema político e enfraqueceria… o sindicato.

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"If your brains were dynamite there wouldn't be enough to blow your hat off.” 

(Kurt Vonnegut)

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12.7.13


O NAVIO FANTASMA (15)

Portas, como Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, classifica a situação portuguesa de "protectorado". Presumo ter sido o primeiro a utilizar essa expressão em Outubro de 2010  (UM PROTECTORADO DA UNIÃO EUROPEIA  no Público de 9 de Outubro de 2010 e aqui no Abrupto.), mas daí não advem nenhum problema: é uma classificação analítica, que presumo ser certa, feita num artigo de opinião. Mas se eu o posso fazer, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal não o pode fazer de nenhum modo. Ele é um membro do governo de um país, independente e soberano, que não se encontra formalmente em nenhum estado de excepção, em que o Presidente da República, o Parlamento, o Conselho de Estado o Conselho Superior de Defesa Nacional, todos os orgãos institucionais da nossa democracia, as nossas Forças Armadas, nunca, que se saiba, aceitaram pôr em causa a independência e a soberania nacional, classificando a situação nacional nesses termos e tirando daí as ilações correspondentes. Que são gravíssimas, até porque não entramos em nenhuma guerra e não fomos invadidos por países estrangeiros.

Eu bem sei que o uso de palavras pelo Ministro Portas é particularmente elástico, mas ele é uma das últimas pessoas que pode falar com este à vontade de Portugal como protectorado. Uma coisa é a situação de facto de perda de soberania face aos  nossos credores, traduzida no "programa" do Memorando, que não ignoro, outra é a aceitação por parte do topo do estado que isso significa a perda da soberania nacional sem que nenhuma instituição, pelo menos o Presidente e a Assembleia, o defina e caracterize como tal. Isso significa uma perversão total da nossa independência e soberania, significa consentimento pela voz do Ministro dos Negócios Estrangeiros e constitui uma traição mesmo à face da lei.

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8.7.13


O NAVIO FANTASMA (14)

Conhecendo o modus operandi das pessoas que estão no governo, a seguir deve vir uma qualquer operação de propaganda que dê uma "vitória" ou a Passos ou a Portas, com a colaboração da troika.  Manter este governo contra tudo e contra todos, e impedir a realização de eleições antecipadas a todo o custo, é tão decisivo que podemos ver de novo uma linha desenvolvimentista qualquer, mesmo com prejuízo do défice. Para algumas empresas e não para os alvos dos 4 mil e setecentos milhões de cortes, entenda-se, porque esses são a "a manutenção dos compromissos do estado português".

O que sustenta este governo é do domínio da pura política, a vital sobrevivência a nível nacional e europeu do "bom aluno", mesmo com sacrifício do "rigor orçamental". Foi isso que Gaspar suspeitou.

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"As varas do poder, quando são muitas, elas mesmo se comem, como famintas sempre de maiores postos."

(Padre António Vieira)

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7.7.13


O NAVIO FANTASMA (13)

Nunca em toda a minha vida, antes ou depois do 25 de Abril, senti um tão agudo ambiente de "luta de classes". Os de baixo contra os de cima. os de cima contra os de baixo. Os de cima que fazem de conta que não há os de baixo, não existem, ponto. Os de baixo que se pudessem apanhar os de cima, sem a corte de guarda-costas, os fariam passar um mau bocado. Sem organização, sem instigação, como quem respira. 

Em 1974-5, o conflito era de outra natureza, era dominantemente político, e não tinha essa fractura social evidente e agressiva como base. Era sobre liberdade e ditadura, sobre o Portugal do passado mais do que sobre o Portugal do futuro. Com excepção dos retornados, pouca gente sofreu nesses anos, nem mesmo os presos pelos mandatos de captura em branco do Otelo, ou  as centenas de MRPP presos. Dez anos bastaram para normalizar a democracia, acabar com os restos do PREC, absorver os retornados, sem feridas permanentes. 

Agora as feridas vão ser profundas e vão durar muito tempo. A identidade do país soçobrou dentro da Europa a favor da burocracia de Bruxelas e do directório alemão. Antes era por inconsciência, agora é pela necessidade. Mas, antes e agora, porque a nossa elite dirigente tem em pequena conta o país, não gosta dos portugueses, desconhece a nossa história e tradições, e está dominada por interesses. Não lhes passa pela cabeça que, agora que as pessoas têm que comer terra, talvez escolhesssem comer a mesma terra que comem e vão comer no futuro, sem ter que suportar a tutela arrogante de quem, nos desprezando, nos dá lições de moral e disciplina.

O tecido social está rasgado, o país deslaçado, onde um discurso de guerra civil penetra, fazendo o vizinho dono de um pequeno café, vergado de impostos, voltar-se contra o vizinho professor em vésperas de ser  "requalificado", em vez de olhar para cima, para quem de forma leviana e muitas vezes incompetente, balizado apenas pelo círculo de ferro do nossso establishment, no qual a banca define a pertença e a exclusão, está a conduzir uma operação de empobrecimento colectivo de muitos para salvar a "economia" de poucos. E esses poucos, são os que nos colocaram na situação em que estamos.

Hoje há reacção, reacção de reaccionarismo. Há um acantonamento de emergência com armas e bagagens do lado do governo, preparado para tudo, para ser agressivo, para fazer todas as chantagens (a chantagem teve um papel nesta crise) , a cilindrar tudo e todos à frente. Do outro lado, tem um enorme vazio, Antònio José Seguro, o homem que não existiu nesta crise, porque eleições antecipadas era a última coisa que queria, em razão inversa das vezes de que falou nelas. À direita aconselham-no a "fazer de morto", para castrar todas as veleidades de ele fazer qualquer oposição que se veja. É um conselho errado, porque ele está já de há muito morto, não precisa de se "fazer".  E está morto do lado deste Navio Fantasma que é o governo.

E depois tem um BE encurralado e sem estratégia, e um PCP, há muito tempo numa posição defensiva, que tem um papel fundamental nos sindicatos (sem a acção sindical de resistência, real ou potencial, ninguém falaria de "cansaço da austeridade" e o governo e a troika teriam ido muito mais longe na criação do país de mão de obra barata e disciplinada que pretendem) , mas é inútil no plano político. Os "indignados" e companhia tem folclore a mais e a actuação pelas redes sociais é no essencial preguiçosa e atentista. 

Ou seja, a maioria dos de baixo está entregue à fúria populista e ao desespero.

(Continua.)

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ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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© José Pacheco Pereira
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