ABRUPTO

1.9.12


ESPERO… 

... sem muita confiança, mas espero ainda, que o governo português, que, presumo, vê os comunicados da troika antes destes serem divulgados (em inglês, um retrato da nossa falta de soberania), não permita que um grupo de funcionários estrangeiros faça a mais leve crítica pública à decisão do Tribunal Constitucional português. Pense a troika o que pensar, ninguém imagina que pudesse criticar em público, o Tribunal Constitucional alemão, sem levar o governo alemão a correr na União Europeia e no FMI com os funcionários que tivessem cometido esse abuso.

(url)


COISAS DA SÁBADO: O ESTADO, O GOVERNO E A TELEVISÃO


Nem tenho falado das matérias da RTP, porque não vale a pena. A minha opinião é conhecida: o estado não deve ter órgãos de comunicação social. Não tenho uma letra a mudar ao assunto. A questão do “serviço público” é outra, e a mistura das duas serve sempre para legitimar a existência de várias empresas públicas, com controlo governamental. Admitindo que há um “serviço público” mínimo, ele deve ser definido, coisa que os seus defensores nunca querem fazer, e acima de tudo, nada justifica que se estenda a matérias de jornalismo e informação.

Dito isto, também nunca tive a mais pequena dúvida de que, no fim da linha, não haverá qualquer diminuição do efectivo poder governativo, bem pelo contrário, sobre um canal ou um grupo de televisão a que hoje chamamos “comunicação social do estado”. Seja qual for a fórmula escolhida, chame-se-lhe “privatização” ou “concessão”, ou qualquer outra na panóplia de esquemas que os consultores encontrem, o estado vai sair mais forte, ou seja, os governos vão ter mais instrumentos para mandar no “seu” sector de comunicação. A não ser que este governo encontre uma fórmula para não só privatizar ou "concessionar" a RTP, como também privatizar o poder de controlar a RTP a favor de um partido ou de um grupo de interesses "amigo". Daí que o PS se mexa, como nunca se mexeu com nenhuma outra privatização, porque, quando houver rotatividade no governo, não encontra lá nada. está cá fora nas mãos de um certo PSD e da coligação de interesses que o apoia.  O PS encontrará certamente meios de pôr lá as mãos, porque os mecanismos de controlo permanecem na governação, mas será mais difícil

Para além de tudo ser obscuro e já estar decidido ou quase, o pior, em termos de saúde da nossa democracia,  é a entrega da comunicação social do estado a um grupo “amigo”, seja português, angolano, ou luso-angolano. Será é sempre “amigo” e bem “amigo”. Ou alguém imagina que qualquer proposta que apareça, vinda de alguém que o governo possa considerar “hostil” ao actual poder político, possa ter cabimento? Não, meus amigos, está tudo já cozinhado. Pode estar mal cozinhado, e haver sarilhos e indigestão, mas que o prato já está pronto ser servido, já está há muito.

(url)


EARLY MORNING BLOGS   
2247

Solitudinem eius placuisse maxime crediderim, quoniam importuosum circa mare et vix modicis navigiis pauca subsidia; neque adpulerit quisquam nisi gnaro custode. caeli temperies hieme mitis obiectu montis quo saeva ventorum arcentur; aestas in favonium obversa et aperto circum pelago peramoena; prospectabatque pulcherrimum sinum.

(Tácito)

(url)

31.8.12


PONTO / CONTRAPONTO:

REGRESSA A 2 DE SETEMBRO

(url)


EARLY MORNING BLOGS   
2246 - Glazunoviana

The man with the red hat
And the polar bear, is he here too?   
The window giving on shade,   
Is that here too?
And all the little helps,
My initials in the sky,
The hay of an arctic summer night?

The bear
Drops dead in sight of the window.
Lovely tribes have just moved to the north.
In the flickering evening the martins grow denser.   
Rivers of wings surround us and vast tribulation. 
 
(John Ashbery)

(url)

26.8.12


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: O PAPEL DE UMA BUROCRACIA CRIMINOSA

Ian Kershaw, The End - Germany, 1944-45, Penguin Books, 2012

O livro recente de Ian Kershaw, um dos maiores especialistas da história do nazismo, intitulado “O Fim – Alemanha 1944-5”, e que espero venha a ser traduzido em português, pretende responder à pergunta de porque é que a Alemanha, os alemães, os generais e soldados, a estrutura do estado, continuaram a combater até praticamente ao último minuto, sabendo que a guerra estava perdida, no meio do maior sofrimento e violência? É uma questão interessante para a história porque remete para a explicação de coisas que parecem aos olhos de qualquer um irracionais e sem sentido. 

Sabemos a resposta para a pergunta em Hitler que, quando percebeu que a guerra estava perdida, considerava que os alemães não mereciam sobreviver e a carnificina final era de algum modo desejada. Podemos compreender a resistência feroz no Leste face aos russos, porque todos esperavam, pelas amostras já conhecidas, que a ocupação soviética significasse todo o tipo de violências, violações, execuções, massacres. Porém, no seu conjunto, a liderança alemã, Bormann, Speer, Himmler, e Goebels, sabiam muito bem que a guerra estava perdida em 1944 e cada um fez tudo que estava ao seu alcance para manter o país a funcionar para a guerra e para esmagar toda a oposição. 

 A história que este livro nos conta é de como, do atentado falhado contra Hitler até ao governo do almirante Doenitz, que continuou a funcionar semanas após o suicídio de Hitler e mesmo depois da rendição por breves dias, a máquina de guerra, a máquina produtiva, a máquina do terror, continuaram nas condições mais adversas, até ao colapso em 1945. Particularmente interessante é ver como, sob a égide de Bormann, cuja importância é crucial nesta fase final do nazismo, a estrutura burocrática de estado, já sobreposta inteiramente à do partido, continuava a funcionar. Os gauleiter, governadores regionais, detentores de consideráveis poderes executivos, assumem uma enorme importância no esforço de guerra e na repressão. É impressionante ver toda uma burocracia a funcionar debaixo de ruínas que os bombardeamentos aliados tinham trazido às cidades alemães e com os russos a poucos quilómetros, a executar todos os opositores, reais e imaginários, com tribunais ambulantes, assassinando milhares de pessoas, soldados, estrangeiros, prisioneiros, com toda a eficácia organizativa de que a Alemanha se mostrou capaz. 

 De novo, uma ideia de vingança, do tipo “vamos perder, mas vocês não se vão ficar a rir” funcionou em proporções cruéis. O mais interessante do livro, é que nos mostra como uma burocracia eficaz, o clímax da modernidade, pode ser um instrumento ideal para a vingança colectiva, o clímax da barbárie.

(url)


EARLY MORNING BLOGS   
2245 . The Unknown Citizen 

He was found by the Bureau of Statistics to be
One against whom there was no official complaint,
And all the reports on his conduct agree
That, in the modern sense of an old-fashioned word, he was a
   saint,
For in everything he did he served the Greater Community.
Except for the War till the day he retired
He worked in a factory and never got fired,
But satisfied his employers, Fudge Motors Inc.
Yet he wasn't a scab or odd in his views,
For his Union reports that he paid his dues,
(Our report on his Union shows it was sound)
And our Social Psychology workers found
That he was popular with his mates and liked a drink.
The Press are convinced that he bought a paper every day
And that his reactions to advertisements were normal in every way.
Policies taken out in his name prove that he was fully insured,
And his Health-card shows he was once in hospital but left it cured.
Both Producers Research and High-Grade Living declare
He was fully sensible to the advantages of the Instalment Plan
And had everything necessary to the Modern Man,
A phonograph, a radio, a car and a frigidaire.
Our researchers into Public Opinion are content 
That he held the proper opinions for the time of year;
When there was peace, he was for peace:  when there was war, he went.
He was married and added five children to the population,
Which our Eugenist says was the right number for a parent of his
   generation.
And our teachers report that he never interfered with their
   education.
Was he free? Was he happy? The question is absurd:
Had anything been wrong, we should certainly have heard.
 
(W.H. Auden) 

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]