ABRUPTO

14.1.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(14 de Janeiro de 2006)


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Uma placa que marca o fim da ocupação austríaca. 69 anos depois do fim da República Veneziana, sem glória, morta pelas tropas invasoras, as novas ideias românticas do nacionalismo do "Ressurgimento", impediram-na de renascer independente. Está cá, num canto da cidade, ignorada pelos turistas.



*

Espelho meu: "Telecommunications Traffic Flow Map" com Portugal na periferia da periferia.


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ACRESCENTADO A
BOAS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005



NAS PÉSSIMAS

Na blogosfera: a utilização do anonimato em blogues estritamente políticos, em particular, os que são escritos a partir de uma perspectiva corporativa ocultada. O caso mais grave é a Grande Loja do Queijo Limiano, um blogue escrito e habitualmente comentado por “agentes da justiça”, sob capa do anonimato, um retrato preocupante de uma mentalidade justicialista arrogante e prepotente. O blogue está cheio de insinuações sobre tudo e todos, alimentando uma atitude policial de desconfiança, sem respeito algum pelas liberdades. Se os seus principais autores são magistrados, procuradores ou juízes, é razão para ter medo, muito medo, das mãos em que está entregue a justiça em Portugal. Infelizmente, a blogosfera paga também este preço pela sua liberdade.

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COISAS SIMPLES


Daumier

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EARLY MORNING BLOGS 708

Calçada do Cordeal


Pequeno tambor orgia modesta
o lago tranquilo a descoloração
tintura de brancos e verdes floresta
o lago tranquilo a prostituição
candura doçura nos olhos em festa
mão no coração


A bola de vidro rola vis-a-vis
com as flores que altas são no jardim.
Há justos e réprobos porque o Senhor quis
vingar-se de nós porque sim


(Mário Cesariny)

*

Bom dia!

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13.1.06


BOAS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR


à memória do Carlos Cáceres Monteiro

BOAS

Na SIC: os documentários da SIC cujo melhor exemplo foi o de Cândida Pinto sobre Snu Abecassis, embora, durante todo o ano, tenham sido sempre as melhores reportagens jornalísticas de tipo documental, de “grande informação” ou em anexo aos noticiários.

Na SIC e na TVI: a excelente informação / opinião económica na SIC Notícias e Perez Metelo na TVI , um divulgador especializado com grandes qualidades comunicativas.

Na SIC Notícias: Mário Crespo e o par João Adelino de Faria / Ana Lourenço nos noticiários.

Na 2: Documentários culturais, entre outros sobre Luis Pacheco, Glicínia Quartim, João Vieira, Fernanda Botelho, etc.

Na 2: Clube dos Jornalistas, o único espaço que se aproxima da “grande informação” (porque está na televisão) dedicado á reflexão sobre o jornalismo.

A Sábado é o órgão de comunicação social portuguesa mais subestimado, vítima das “sinergias” que lhe faltam: não tem quem puxe pelas suas notícias nos outros órgãos de comunicação social. Mas que tem notícias, isso tem.

A imprensa de distribuição gratuita como o Destak. Para muita gente significa mais notícias que nunca iriam encontrar, ou melhor, ler, noutro lado. Isto só pode ser considerado um acrescento na "comunicação", na cidadania.

Na blogosfera: o debate político. Os blogues políticos de todas as cores continuam a ser a parte mais dinâmica da blogosfera, contra todas as cíclicas previsões em contrário. O debate pode ter todos os defeitos da "atmosfera", mas tem também qualidades que só há na blogosfera.

Na blogosfera: micro-causas - A questão dos “estudos da OTA” que se tornou a segunda questão mais determinante do debate público sobre a OTA (a primeira foi e é “faz-se ou não se faz”), deveu-se à persistência dos blogues, e não da comunicação social fora da rede, que só a assumiu quando não a podia evitar. Depois, tornou-se parte integrante do “problema OTA”.

Na blogosfera: blogues de jornalismo, sobre jornalismo. Os blogues especializados em “comunicação” são em sentido lato o melhor conjunto de blogues com um tema específico na blogosfera portuguesa. Exemplos: Engrenagem, Indústrias Culturais, Ponto Media, Atrium, Jornalismo e Comunicação, As Imagens e Nós, Blogouve-se, etc.

Na blogosfera: Margens de Erro de Pedro Magalhães, o “nosso” explicador das sondagens e muito mais. Um exemplo de um blogue que acrescenta.

Rádios Presidenciais - Uma rádio dedicada às presidenciais revela as potencialidades que este meio encontra quando faz um uso das tecnologias que ultrapassam o mero instrumento de trabalho ou de difusão sonora.

Na TSF: a sonorização das reportagens.

Livros e revistas sobre jornalismo: edições de revistas como Trajectos e Media e Jornalismo, as colecções "Media e Sociedade" (Editorial Notícias), "Comunicação" (Minerva), "Comunicação e Sociedade" (Campo das Letras /CECS-UMinho, dirigida por Moisés de Lemos Martins) e "Comunicação" (Porto Editora, dirigida por Manuel Pinto e Joaquim Fidalgo).

PÉSSIMAS



A obscura política comunicacional governativa – O ano passado era a “central de comunicações” de Santana Lopes, este ano é a gestão mais profissionalizada, com maior colaboração silenciosa de muitos simpatizantes no meio da comunicação social, do controlo governativo. As grandes manobras da propriedade, que a montante ou a jusante, incluem sempre o beneplácito do poder político num país como o nosso tão dependente do estado, estão pouco esclarecidas. Mas quase tudo vai no mesmo sentido. Se houvesse um medidor não impressionista do “grau de incomodidade” da comunicação social face ao poder, ver-se-ia como ele baixou significativamente. Um exemplo: o modo como foi tratada a conflitualidade social, seguindo uma linha governamental, nunca nos dando a ideia da dimensão do que estava a acontecer e vista sempre numa luz hostil.

A ausência de programas de informação nas televisões generalistas.

Na RTP: a cobertura dos assuntos da UE , em especial os da responsabilidade de António Esteves Martins, que têm um tom oficioso e não-jornalístico.

Excesso de cobertura de eventos religiosos em directo, muito para além do conteúdo de "interesse público" num país de maioria católica (que justifica algumas transmissões, mas não todas) e sem qualquer valor informativo.

Na RTP: os comentários de António Vitorino nunca acrescentam nada e são claramente limitados por uma vontade de ortodoxia, que é uma vontade de carreira política. Legítimo, mas não chega para comentar sob aquela forma e com aquele estatuto, quando não se tem mais nada para dar. Pode-se ter “mixed feelings” sobre os comentários de Marcelo, mas estes são um “facto comunicacional” impossível de passar ao lado. Podem ter (têm) agenda política, são superficiais e ligeiros, mas ultrapassam os defeitos do seu autor, pelas suas qualidades no meio. Marcelo é um Mensch comunicacional, Vitorino não é.

Tsunami – Mais um exemplo de “masturbação da dor” como sensacionalismo jornalístico, ao ritmo das grandiosas imagens das vagas do maremoto. Se não houvesse imagens tão poderosas, turistas estrangeiros e destinos de férias como Puket atingidos, o tratamento comunicacional seria o que foi dado ao terramoto paquistanês, ou seja quase nulo. Não é a dimensão da tragédia que conta, mas a sua espectacularidade.

Katrina – O contra-exemplo ao tratamento do tsunami: “inforopinião” politizada ao extremo, “masturbação da culpa” em vez de “masturbação da dor”. Números fantásticos, previsões apocalípticas, dedo apontado a Bush em cada segundo, e quase nula compaixão pelas vítimas. A cidade “destruída” lá está a funcionar, ferida, mas viva. As dezenas de milhares de mortos anunciados continuam por descobrir, mas ninguém entende que deva corrigir alguma coisa.

Arrastão – A pseudo-história mais fantástica da nossa comunicação social em 2005, que, desde o primeiro minuto, parecia a qualquer pessoa sensata, muito bizarra. Who cares? Passou do sensacionalismo, para a demonização política anti-emigrantes e racista, para depois, no backlash, se tornar demonização política anti-racista ao estilo do “SOS Racismo”, ou seja do Bloco de Esquerda. Como era uma história (falsa) que “favorecia a direita” anti-emigrantes foi desmontada e contrariada. Quantas, ao contrário, que “favorecem a esquerda”, e igualmente falsas nunca são desmontadas?

Entre o 24 Horas, que sobe, os jornais grátis, os blogues, e a informação em linha, a imprensa generalista cai. Para responder à queda molda-se ao que pensa dar sucesso, o “social”, o “económico”, e temo que as reestruturações em curso nos grandes jornais valorizem ainda mais a superficialidade do produto. Se for assim, é só uma questão de tempo para cair ainda mais, porque nesse terreno outros fazem melhor.

Na Público: o fim da consulta grátis em linha.

No Expresso: as primeiras páginas inventivas. Agora que se sabe de quem é a responsabilidade, – de José António Saraiva, que as faz sozinho numa forma de meditação transcendental como nos disse em entrevista –, espera-se que Henrique Monteiro acabe com elas.

O fim da A Capital e de O Comércio do Porto.

O jornalismo económico continua a depender de uma visão mais do “económico” do que do “jornalístico”. Com capacidade para produzir boa informação sobre o estado e o governo, revela-se incapaz de tratar as empresas como objecto jornalístico, mostrando pouca independência em relação aos sectores económicos e financeiros que a patrocinam. Não há verdadeiras reportagens ou notícias sobre o que corre mal e sobre face não-empresarial da economia, como por exemplo, o mundo do trabalho.

A Antena 2 é demasiado loquaz. Muito se fala naquela rádio, num tom entre o pedante e o falsamente intímo, tirando limpidez à música.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
AS ÚLTIMAS COISAS - O SABOR, O ÚLTIMO RIO SELVAGEM EM PORTUGAL


(Enviada por Luis Jerónimo.)

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OBSERVAÇÕES PRESIDENCIAIS AVULSAS



O único candidato que tem inequívocas, indesmentíveis, razões para se queixar da comunicação social é Garcia Pereira. A sua exclusão dos debates pré-eleitorais foi exclusivamente uma opção da comunicação social. E poucas dúvidas se podem ter que se Garcia Pereira pudesse ter acesso a esses debates não andaria a arrastar-se nos zero vírgula, qualquer coisa por cento. Garcia Pereira é um debatente duro e menos sensível à "moderação" para ganhar uns votitos. Iria buscar votos aos votos radicais, ou seja prejudicaria Louçã, o grande beneficiado por esta opção.

(Continua)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(13 de Janeiro de 2006)


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A melhor imagem de sempre da nossa companheira dos céus de Janeiro, a Nebulosa de Orion, tirada pelo Hubble. Em tamanho grande aqui.

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Novos problemas: a tradução dos SMS aparecidos em obras literárias (p.e. em Martin Amis).

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EARLY MORNING BLOGS 707

Liberdade, onde estás? Quem te demora?


Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha... Oh!, venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!


(Bocage )

*

Bom dia!

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12.1.06


COISAS COMPLICADAS


Donald Judd

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EARLY MORNING BLOGS 706

The Snow Man


One must have a mind of winter
To regard the frost and the boughs
Of the pine-trees crusted with snow;

And have been cold a long time
To behold the junipers shagged with ice,
The spruces rough in the distant glitter

Of the January sun; and not to think
Of any misery in the sound of the wind,
In the sound of a few leaves,

Which is the sound of the land
Full of the same wind
That is blowing in the same bare place

For the listener, who listens in the snow,
And, nothing himself, beholds
Nothing that is not there and the nothing that is.


(Wallace Stevens)

*

Bom dia!

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10.1.06


ENFADO?



Cresce nos blogues e nos jornais, o enfado enorme que atravessa os comentários sobre estas eleições. Resta saber se haveria o mesmo enfado se não fosse esperado que Cavaco as ganhasse. Mas este enfado gigantesco é mais uma vez a medida da superficialidade com que as eleições presidenciais são observadas, e a tendência para repetir por ciclos os lugares comuns que se tornam dominantes. Pack journalism no seu pior.

E no entanto... estas eleições são muito mais interessantes do que parecem, muito mais importantes do que se imagina. Elas mexem fundo no sistema político-partidário, nos partidos, nos grupos dentro dos partidos, nas personalidades. Muita coisa vai começar, alguma está a acabar de forma inesperada. Muitas perguntas permanecem por responder. Por que razão Cavaco chegou, viu e vai vencer? Não é tão evidente como parece. Por que razão Soares não gerou o efeito que claramente esperava (e muitos comentadores com ele) e passou de "pai da pátria a mau da fita"? Que fazem Sócrates, Marques Mendes, Portas, nesta fita? Que futuro para cada um deles numa ecologia "cavaquista" na Presidência? Por que razão a esquerda se fragmentou e não conseguiu somar os seus eleitorados como lhe era prometido nos primeiros dias da campanha (bem sei que é arqueologia, mas convém perceber como as razões de legitimação “técnicas” das candidaturas eram débeis)? Por que razão não se conseguiu instituir o dilema esquerda / direita nestas eleições, como de algum modo já acontecera de forma menos evidente nas legislativas, e parecia dominar a política portuguesa desde o fim de Guterres? Como conviverá o Primero-Ministro, o Governo e o PS, cada um ao seu modo, com um presidente com forte legitimidade política, em particular se for eleito à primeira volta?

Tanta coisa por definir depois de 22 de Janeiro, que só os desatentos podem estar enfadados. Ou aqueles para quem a política tem interesse quando ganham e perde-o quando perdem.

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(10 de Janeiro de 2006)


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Ainda não está fechada a questão do nome do LENDO / VENDO, etc, etc, nem se fica assim ou assim ou qualquer variante. É que não é a mesma coisa.

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Para fugir à ditadura solitária do PowerPoint - algum dia terá que se escrever um ensaio sobre o que o PowerPoint fez às conferências e "apresentações", e de um modo geral ao nosso cérebro -, estes "Experiments in presentation technology" no Lessig Blog.

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Todos os dias a Rede fica melhor. Para os verdadeiros iluministas (como os leitores que estão a escrever sobre O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LUZES) estas LUZES, no melhorado e aberto ao negócio Google Video.

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COISAS SIMPLES


Ansel Adams

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EARLY MORNING BLOGS 705

Karma Repair Kit: Items 1-4


1.
Get enough food to eat,
and eat it.


2.
Find a place to sleep where it is quiet,
and sleep there.


3.
Reduce intellectual and emotional noise
until you arrive at the silence of yourself,
and listen to it.


4.



(Richard Brautigan)

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Bom dia!

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9.1.06


XERXES E MONTAIGNE

Têm razão os meus correctores clássicos. É o que faz citar de memória mesmo com um prudente “diz-se”. Não foi depois da batalha de Salamina que Xerxes mandou chicotear o mar, mas noutra ocasião na mesma campanha militar. Não só mandou chicotear o mar, como queimá-lo com ferros em brasa, por ter destruído uma ponte sobre os Dardanelos que o seu exército precisava de atravessar. De passagem, matou os engenheiros que a tinham feito. Detesto cometer incorrecções, mesmo quando a descrição do contexto da atitude de Xerxes seja o correcto.

Mas que tal se os meus críticos se pronunciassem também sobre a atitude de muita gente na campanha de Soares (e dele próprio), sobre esta fabulosa arrogância que é considerar que as eleições só são boas, dignas e “livres” quando o “povo” vota em nós? Sobre a acusação ao “povo” que é “feio, porco e mau” quando não vota à “esquerda”?

Montaigne escreveu sobre esta atitude, citando aliás o chicote de Xerxes, num capítulo dos Ensaios, intitulado: “Comme l'ame descharge ses passions sur des objects faux, quand les vrais luy defaillent”(Livro I, cap. IV):
Quelles causes n'inventons nous des malheurs qui nous adviennent ? à quoy ne nous prenons nous à tort ou à droit, pour avoir ou nous escrimer ? Ce ne sont pas ces tresses blondes, que tu deschires, ny la blancheur de cette poictrine, que despitée tu bats si cruellement, qui ont perdu d'un malheureux plomb ce frere bien aymé : prens t'en ailleurs. Livius parlant de l'armee Romaine en Espaigne, apres la perte des deux freres ses grands Capitaines, Flere omnes repente, et offensare capita. C'est un usage commun. Et le Philosophe Bion, de ce Roy, qui de dueil s'arrachoit le poil, fut plaisant, Cetuy-cy pense-il que la pelade soulage le dueil ? Qui n'a veu mascher et engloutir les cartes, se gorger d'une bale de dez, pour avoir ou se venger de la perte de son argent ? Xerxes foita la mer, et escrivit un cartel de deffi au mont Athos : et Cyrus amusa toute une armee plusieurs jours à se venger de la riviere de Gyndus, pour la peur qu'il avoit eu en la passant : et Caligula ruina une tresbelle maison, pour le plaisir que sa mere y avoit eu.
É. Nesta campanha, a arrogância está muito desigualmente distribuída. E a arrogância levará a uma humilhação de todo desnecessária.

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COISAS COMPLICADAS


Hiroshi Sugimoto, Time exposed

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LUZES



Um dos aspectos mais contrastantes entre Washington DC e a nossa cidade de Lisboa ( todas as nossas cidades, afinal) é, nesta época de Natal e fim-de-ano, a exuberância das iluminações das nossas principais ruas e avenidas e a discreta, quase apagada, iluminação natalícia das cidades americanas e, particularmente, da sua capital. Na principal avenida de Washington DC, a Constitution Av., não foi dependurada uma única gambiarra, a árvore de Natal em frente da Casa Branca é uma parente muito pobre daquela que levou milhares e milhares de admiradores à Baixa de Lisboa. Mesmo Nova Yorque ou San Francisco, tradicionalmente mais garridas que a institucional capital dos EUA, não se comparam, em termos relativos, com a inundação de luz nas nossas cidades. As cidades europeias mais cosmopolitas ficam a anos-luz das nossas luzes de fim de ano.

Talvez tenhamos necessidade de todas estas luzes para nos aquecer o ego tão arrefecido por tantos indicadores deprimentes, talvez os autarcas conservem, deste modo, o caloroso aplauso dos seus eleitores até às próximas eleições, talvez a economia derrapasse ainda mais sem esta baforada quente, talvez se perdessem uns empregos mais, afinal de contas entre armar e desarmar os enfeites gozamos desta atmosfera de festa por uns largos meses.

Quantos portugueses se interrogarão acerca da pertinência de tanta luminosidade? Seguramente, muito poucos. Não me recordo de ter alguma vez lido ou ouvido comentários de espanto mesmo nos media tidos geralmente como mais exigentes ou conservadores.

Alguém pagará a factura, quem vier depois que feche a luz!, é a posição corrente.

(Rui Fonseca)

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CONTRIBUIÇÕES PARA BOAS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR - 4

...se o nível de erros e asneiras no que eu desconheço for igual ao que detecto nos assuntos que conheço, o melhor é nem ler jornais...



Uma coisa péssima na nossa comunicação social (com especial incidência para a imprensa), e não é só em 2005, é a falta de rigor e a superficialidade na informação. Desde logo no próprio critério de selecção. Na definição do que é que é notícia e do que não é.

E depois, no tratamento dos factos noticiados. Textos mal escritos, com evidentes contradições e inconsistências, que não resistem à mais breve e superficial análise de qualquer leitor. Números e datas errados. Ausência quase total de conhecimento ou de investigação sobre o tema tratado.
Por outro lado, é muitas vezes evidente que estamos perante simples transcrições de textos de agências noticiosas ou mesmo dos sujeitos da notícia ou da informação.

O que é grave é que isto acontece também na informação especializada, designadamente na económica, onde só teríamos a ganhar com a isenção e rigor nas notícias (e não estou a falar de opinião ou análise). Concordo que houve uma melhoria com surgimento e afirmação de alguns jornais nessa área. Mas, quem os lê todos os dias com um mínimo de atenção não tarda em perceber e reconhecer os critérios de selecção das notícias, o seu tratamento e as lacunas e incorrecções.

Outro aspecto que me parece péssimo, e é recorrente, é a opinião disfarçada de informação. Costumo dizer que se o nível de erros e asneiras no que eu desconheço for igual ao que detecto nos assuntos que conheço, o melhor é nem ler jornais. O que é pena.

(RM)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LANA CAPRINA



Aconteceu, por mera coincidência, eu ter estado exposto em simultâneo às notícias da campanha presidencial e às novidades vindas de Las Vegas, por ocasião do "CES - Consumer Electronics Show". De um lado o fim de uma "pré-campanha" que se arrastou durante meses a discutir abstracções com resultados nebulosos enquanto do outro um pequeno grupo de potentados repartia, em poucos dias, gigantescos negócios globais.

Um resumo das notícias de Las Vegas: a Google anunciou a venda de filmes da CBS e imagens dos jogos de basketball via internet , a Sony lançou um aparelhinho portátil que pode conter 80 livros e mostrá-los no seu visor para leitura, a Apple vendeu dez milhões dos seus iPods para entretenimento enquanto se dá um passeio, a Motorola anunciou a disponibilização das buscas do Google nos seus telefones portáteis e o Yahoo divulgou dispositivos que permitem a partilha da informação pelos televisores, computadores e telefones.

Por cá os nossos candidatos cruzavam acusações a propósito da divulgação, ou não, dos nomes dos financiadores das campanhas eleitorais. Também se discutia se o primeiro-ministro apareceria, ou não, na campanha de Soares e se o Marques Mendes seria admitido nos comícios de Cavaco. Alegre invectivava Soares e Cavaco por se terem encontrado, sem ranger os dentes, com Valentim Loureiro e com Jardim. E assim por diante...

De repente tive a penosa sensação do anacronismo de uma campanha que quase pode ser imaginada a decorrer no século XIX. Tenho a sensação de que a informação digitalizada do mundo está a ser repartida por meia-dúzia de grupos empresariais enquanto os nossos candidatos parecem estar completamente alheados do facto e mesmo inconscientes das suas implicações para o futuro da humanidade. Continuaremos até dia 22 de Janeiro com a lana caprina ? como se estivessemos num planeta diferente ?

(Fernando Penim Redondo)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(9 de Janeiro de 2006)


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A molécula que não fica quieta "protonated methane" ou CH5+, um "super-ácido".

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A propósito do "fim do mundo", uma foto enviada pelo Francisco José Viegas "entre a Argentina (Ushuaia) e o Chile (Puerto Williams)", uma daquelas imagens que vale por mil palavras.



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Leitura do PREC, mais propriamente o Põe, Rapa, Empurra, Cai, número zero de Novembro de 2005, só encontrável em selectos e raros lugares. Este comprei-o na Livraria Utopia no Porto. O jornal é um balanço do projecto "Abril em Maio", entre 1994 e 2004, sem dúvida o mais consequente projecto de cultura radical em Portugal. À volta de pessoas como Jorge Silva Melo, Eduarda Dionísio, e Luis Miguel Cintra, o "Abril em Maio" foi singularmente produtivo (deu-nos textos, traduções que nunca de outro modo se fariam, debates sobre autores que caminham para um indevido esquecimento como Mário Dionísio e Carlos Oliveira, etc.), sem perder uma identidade muito própria. O Prémio Nobel a Pinter foi também por arrastamento um prémio ao "Abril em Maio", às suas idiossincrasias e obsessões, às suas paixões e ódios, e aos seus gostos temperados por um sentimentalismo radical e agreste.

Mas o PREC não é o melhor do "Abril em Maio". Rebarbativo, difícil de ler nas suas opções gráficas e de papel (tão grosso que não dobra facilmente), denso nos seus textos sem ser complexo, confuso e longo, tem muito menos do que aquilo que prometia e se esperava. Salvam-se fragmentos, como um artigo de Jorge Silva Melo com memórias de Vespeira, Areal e Palolo e pouco mais.

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EARLY MORNING BLOGS 704

Aos amigos


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.


(Herberto Helder)

*

Bom dia!

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8.1.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(8 de Janeiro de 2006)


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História contemporânea: Fidel Castro como nunca se viu.

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História contemporânea: a história do LSD contada pelo autor.

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O exemplo de Xerxes vai mais longe do que se pensa. Diz-se que Xerxes, depois de ter perdido a batalha de Salamina, mandou chicotear o mar para o punir de ter afundado a sua poderosa frota. Chamou também umas coisas feias aos seus generais e soldados. Agora, do lado do MASP3, começou o período de Xerxes: Mário Mesquita chicoteia Grândola, chamando-lhe "amarela"; no Super Mario chicoteia-se o Expresso, Balsemão e , claro está, o "povo", o mar que está com os gregos e não com os persas. Vai haver muito ruído de chicote.

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Outro fim do mundo. Saturno no dia 5 de Dezembro de 2005.

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Para colocar o "fim do mundo" na porta do frigorífico.

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Restos do império. Aviões mortos. Manuel Ferreira enviou-me a história a as fotografias de dois aviões envolvidos no apoio ao Biafra e que "jazem mortos e apodrecem" em S. Tomé, o ponto central das operações de ajuda ao estado secessionista .

L1049H CF-NAM July 1967 L1049H CF-NAM July 15, 1999

A história do CF-NAM c/n 4832:

"To National Airlines October 1957 as L1049H N7134C
Stored at Miami, FL from mid-1963 until sold to International Aviation Company December 18, 1964
To Nordair December 21, 1964 as CF-NAM
Ferried to Montreal where used as a source of spares in ex-National color scheme
Restored and entered service with Nordair spring 1966
To CanRelief Air Ltd April 24, 1969 and ferried to Sao Tome June 2, 1969 for use on the Biafran Airlift
Stored at Sao Tome for sale from January 1970
Sale to Canadian freight charter company fell through in 1974
Canadian registration cancelled February 1980
Abandoned at Sao Tome in derelict condition"

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EARLY MORNING BLOGS 603

Horas breves de meu contentamento


Horas breves de meu contentamento
Nunca me pareceu quando vos tinha,
Que vos visse mudadas tão asinha
Em tão compridos anos de tormento.

As altas tôrres, que fundei no vento,
Levou, em fim, o vento que as sostinha;
Do mal que me ficou a culpa é minha,
Pois sôbre cousas vãs fiz fundamento.

Amor com brandas mostras aparece:
Tudo possível faz, tudo assegura;
Mas logo no melhor desaparece.

Estranho mal! Estranha desventura!
Por um pequeno bem, que desfalece,
Um bem aventurar, que sempre dura!


(Luís de Camões)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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