ABRUPTO

14.8.15


PARA QUEM AINDA NÃO PERCEBEU NO QUE ESTÁ METIDO


Há uma parte da oposição a este Governo e à coligação que ainda não percebeu no que está metida. Nessa parte avulta o PS, que acha que isto é um filme para 6 anos, ou, vá lá, 12 e está num filme para adultos, ou como se dizia antes, "para adultos com sérias reservas". Não, não é o Bambi, é o Exorcista ou o Saw

Tenho um bom lugar de observação da linha da frente no combate político com a actual "situação". Sei disso porque há muito tempo que conheço o vale-tudo, de artigos caluniosos a comentários encomendados em massa, até ao célebre cartaz anónimo, que não se sabe quem fez, nem quem pagou. Mas a mensagem é clara: não o ouçam porque é um radical violento. Tenho um processo instaurado pela "massa falida da Tecnoforma". Não digo "tenho sido vítima", porque não sou vítima coisa nenhuma, estou onde quero e faço o que entendo dever fazer. Se chovem paus e pedras, são para mim como elogios. 

Mas vejo as coisas porque percebo do que, do lado da coligação, se é capaz de fazer quando se lhes toca nos interesses vitais, e estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver. Agressivos de um lado, frouxos do outro. 

E vejo os exércitos juntarem-se, com armas e bagagens, muito ódio social, porque é um combate social e político que se vai travar e o ódio mobiliza as hostes, e muita agressividade. Do outro lado, salamaleques, um medo pânico de falar de "mudança", a quase total ausência de críticas ao Governo, o emaranhar-se em explicações e desculpas. Sempre na defensiva, sempre ao lado, sempre a perder. 

Uma parte da oposição prefere objectivamente que tudo continue na mesma para manter o bastião da identidade, outra passa o tempo em actividades burocráticas e escolásticas, para o interior das suas contínuas divisões, enquanto o "maior partido da oposição" se entretém a mendigar "confiança" certamente porque não consegue lidar com os rabos de palha que vieram de 2011. 

O caso do PS é parecido com aqueles generais franceses de luvas de pelica a almoçar foie gras e champanhe, bem longe da frente, num castelo qualquer, com todo o tempo do mundo, enquanto os seus poilus morriam que nem tordos, ou fugiam para a retaguarda misturando-se com os civis, dependendo de que guerra se tratava. O modo como está o PS é devastador para toda a oposição, afecta as candidaturas presidenciais, permite o ascenso de candidaturas patrocinadas no seio do PS pela coligação, tem o duplo efeito de esmorecer e radicalizar, ambos processos de isolamento que abrem caminho para a assertividade e o espírito ofensivo da coligação. 

A propaganda da coligação, assente num castelo de cartas que ruirá ao mais pequeno vento, como aliás o ex-amigo próximo, o FMI, diz, não é desmontada com clareza e frontalidade, porque os compromissos nacionais e europeus do PS são demasiados. A maioria muito expressiva dos portugueses que recusam este Governo, um dado sempre constante nas sondagens, não encontra no sistema político uma resposta. E, mesmo que existissem novos partidos que dessem corpo a esse descontentamento, a maioria dos partidos representados no parlamento, não quer competição e encarrega-se de os calar na comunicação social, com a colaboração da comunicação social. 

Por seu lado, os portugueses que sofreram, sofrem e sofrerão a crise estão cada vez mais invisíveis. Não desapareceram, o seu sofrimento social aumenta com a passagem do tempo, mas não conseguem ultrapassar o ecrã do "sucesso" que 10 mil ministros e secretários de Estado fazem todos os dias. Num dia são as mulheres, noutro dia são as crianças, no terceiro dia são os velhinhos. É só caridade e bondade a rodos. Com a cumplicidade acrítica de muitos que na comunicação social andaram a louvar as virtudes do "ajustamento" e por isso selam o seu destino também com o destino da coligação. O PS, por sua vez, como andou estes anos todos a fugir da contestação social, continua a preferir os salões. 

Versão da  .

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7.8.15


EU RADICAL ME CONFESSO




(Cartaz anónimo colocado nas ruas.)

Por entender que a liberdade é o mais precioso e frágil dos bens. 

Por entender que a liberdade quando se tem em plenitude não se dá por ela, quando se começa a perder os homens e as mulheres que a amam percebem-no de imediato: "Onde liberdade não há, abuso dela não pode haver.


A liberdade pertence a todos e exige a igualdade para se realizar: "O valor essencial da liberdade sem a igualdade torna-se aristocrático privilégio de uns quantos.


A liberdade não é uma dádiva, nem uma concessão: "Eu considero que uma liberdade dependente de poder discricionário do Governo não é uma verdadeira liberdade; fica à mercê do poder.


Entendo que a liberdade exige a possibilidade da propriedade: "Defendemos a propriedade privada, na medida em que impõe o respeito da pessoa." Mas não chega: "Em nome da mesma pessoa combatemos os abusos da propriedade, a concentração da riqueza, o domínio do poder económico.


Não há "crescimento" económico numa sociedade fora do contexto das liberdades: "Adoptando-se o modelo de desenvolvimento capitalista sem instituições democráticas, sem liberdade política, caminharemos para um despotismo violento que nem por ser dourado por melhores condições económicas deixará de ser menos insuportável.


Entendo que a independência e a soberania nacional são valores que permitem o exercício da liberdade efectiva dos portugueses. Entendo que "Portugal precisa de apoio internacional generalizado e merece-o. Esse apoio, venha de onde vier, tem de respeitar a nossa independência e uma rigorosa não ingerência nos nossos assuntos.


Entendo que o PSD não é um partido de direita, nem virado à direita, nem às claras, nem às escuras: "Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita.


Repita -se: "Nós não somos nem seremos nunca uma força de direita." E mais: "Somos um partido de esquerda não marxista e continuaremos a sê-lo.


E mais ainda: "Somos socialistas porque somos sociais-democratas, mas somos socialistas sem subordinação a dogmas marxistas, muito menos leninistas, sem subordinação a dogmas de apropriação colectiva dos meios de produção.


O que significa que no plano programático e da acção "é indispensável conciliar o liberalismo político com o intervencionismo social e económico". 


O PSD não é em primeiro lugar, nem em último, um partido de empresas e empresários que olham para a Economia como se não existissem trabalhadores a não ser como um "custo": "O PPD nunca foi um partido de patrões (...) Desde o início tivemos adesão de larga camada de trabalhadores que se têm multiplicado na sua acção de implantação do partido.


Entendo que não há paz sem justiça social e não o contrário porque: "A paz engloba a justiça social." Sem ela toda a "estabilidade" é fictícia.


Também entendo que nos dias de hoje "A igualdade de oportunidades, independentemente dos meios de fortuna e da posição social, é cada vez mais um mito, designadamente em sectores como a saúde, a habitação e o ensino, onde tudo se degrada a um ritmo alucinante.


Entendo que o poder político se deve sobrepor ao poder económico e não o contrário: "O que há é que impor uma disciplina de actuação do poder económico e dos investimentos, para que ele seja feito com proveito de todos nós e não apenas para os detentores desse poder.


Não reduzo a sociedade e a política aos critérios de "eficiência" tecnocrática: "O desenvolvimento do económico e a aplicação crescente da técnica a todos os ramos geram a obsessão da eficiência.

Entendo que uma boa política social-democrática exige ao mesmo tempo um papel activo do Estado e o combate aos seus abusos. Reconheço a necessidade do investimento público: "O Estado deverá garantir suficiente capacidade humana, técnica e financeira para poder intervir como investidor, realizando projectos de grande dimensão em sectores estratégicos da actividade económica nacional. 


Sou contra o abuso fiscal: "É indispensável que o poder de compra seja também defendido pela redução dos impostos." 


Entendo que é vital haver uma reforma do Estado que não seja degradar serviços públicos e despedir funcionários ou baixar-lhes salário. "Nós vivemos num País de inutilidade pública, inutilidade pública que custa caríssimo e que afinal, agora, querem que continue a proliferar, obrigando os particulares a suportar todo o peso da crise económica.


Entendo por isso que "o que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for"


Se isto é ser, nos dias de hoje, radical, sou radical. 
Estou bem acompanhado no meu radicalismo visto que todas as frases entre aspas são de Francisco Sá Carneiro. 

São frases com principio, meio e fim. Com ideias, contexto e substância. Não são soundbites .

Como ele, não tenho feitio para vítima, por muitas campanhas que se façam. Como ele "nunca me senti tão sozinho e nunca tive tanta certeza de estar tão certo". Certo estava, sozinho é que não.



Versão da  .


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© José Pacheco Pereira
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