ABRUPTO

31.8.13



O NAVIO FANTASMA (35): O PENSAMENTO DÉBIL DOS QUE MANDAM, TORNADO VULGATA PELA IMPRENSA
e
ÍNDICE DO SITUACIONISMO 



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida.


"Sobe e Desce" do Diário Económico

Constitucional bloqueia a reforma do Estado: O Tribunal Constitucional, liderado por Joaquim Sousa Ribeiro, chumbou a possibilidade de despedimentos na Função Pública para quem entrou para o Estado antes de 2008. Mais do que um problema para o Governo, o Tribunal criou um problema para o País, uma vez que bloqueou a reforma do Estado. 

Deve ler-se assim:

1. Constitucional bloqueia  [não é a lei, nem a Constituição, é o Tribunal, e o uso do verbo "bloquear" também não é neutro, é valorativo] 
2. a reforma do Estado [rótulo governamental para despedimentos na função pública reproduzido acriticamente pelos jornalistas pelo seu valor facial, ou seja, manipulatório]
3. O Tribunal Constitucional, liderado por Joaquim Sousa Ribeiro, [convém apontar o nome à turba, para a coisa ser bem pessoalizada]  
4. chumbou a possibilidade de despedimentos na Função Pública para quem entrou para o Estado antes de 2008.  
5. Mais do que um problema para o Governo, o Tribunal criou um problema para o País, uma vez que bloqueou a reforma do Estado. [ideologia pura e repetição de propaganda governamental]

In a nutshell, (eles gostam de inglês), está cá tudo. Como de costume, uma das forças do poder em Portugal é impor as ideias, a linguagem, "mensagens" e manipulações, usando a debilidade do pensar da comunicação social.

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EARLY MORNING BLOGS  


2351

"I am patient with stupidity but not with those who are proud of it. "

(Edith Sitwell)

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30.8.13


O NAVIO FANTASMA (34): O NADA (GOVERNAÇÃO) E O TUDO (INTERESSES)

O governo que está em férias,- coisa que toda a gente acha normal mesmo em plena crise,- usa as férias do Tribunal Constitucional para acicatar o revanchismo social e vingar-se da decisão sobre os despedimentos da função pública. (Sim eu recuso chamar "requalificação" ou "reforma do estado" a um programa de despedimentos, que colocaria os trabalhadores da função pública numa situação sem quaisquer direitos, nem sequer os que têm qualquer trabalhador privado.)  

As férias do governo estão bem patentes nos comunicados do Conselho de Ministros, onde o nada convive com coisa nenhuma ( no último aprovou-se  o "regime jurídico das medidas necessárias para garantir o bom estado ambiental do meio marinho até 2020, transpondo uma diretiva comunitária (a diretiva-quadro«Estratégia marinha»), que estabelece o quadro de ação no domínio da política para o meio marinho"; delegou-se ." no Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia a competência para executar os atos necessários a realização da despesa, já autorizada, com a aquisição de serviços de remoção de resíduos perigosos depositados nas escombreiras das antigas minas de carvão de São Pedro da Cova, em Gondomar" e "aprovou as nomeações do diretor clínico na área hospitalar, do diretor clínico na área dos cuidados de saúde primários e de um vogal executivo para o conselho de administração da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, E.P.E." Há depois uma medida de conjuntura, que tem a ver com os bombeiros, e que nunca esteve pensada e preparada como se percebe se não fossem os fogos e as mortes. E a abertura de "um procedimento extraordinário de realização do estágio e do exame para o acesso à atividade de administrador judicial", o que tem a ver com o número de falências em curso.


E quando não é assim, é pior. Nos processos de privatização cuidadosamente entregues à partida às mãos seguras dos "amigos", consultoras financeiras, escritórios de advogados, "comissões de acompanhamento", num terreno fechado em que ninguém de fora entra, Onde há dinheiro para ganhar, todo o terreno está marcado  com antecedência, para "sempre os mesmos", alguns dos quais são dos mais activos defensores do governo na televisão. Pode haver concursos, pode haver consultas, pode haver tudo. Nos "meios", todos sabem com antecedência para onde vão as coisas. A isso se chama, em doubletalk, "transparência".

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SÍRIA 

A Síria é hoje o terreno mais minado para a manipulação dos factos. Regime e oposição (oposições), aliados e inimigos, participam interesseiramente numa campanha de desinformação destinada a justificar e permitir acções favoráveis a um ou outro lado. 

 Bashar al-Assad é um ditador cruel e assassino. Se precisar de utilizar, em desespero de causa, armas químicas, utiliza sem hesitações. Os grupos de oposição a Assad são cruéis e assassinos. Se precisarem de provocar um ataque químico (eles têm armas químicas) para instigar uma intervenção internacional, num momento em que militarmente estão quase derrotados, utilizarão as armas sem qualquer hesitação. Se tivessem armas nucleares também as usariam.

A França, os EUA, o Reino Unido sabem disso muito bem. Tem os seus serviços no terreno e “conselheiros” especiais junto de alguns grupos da oposição síria. Se Assad usou as armas químicas, iranianos e russos, sabem muito bem se tal é verdade ou não, porque também estão presentes no terreno. E não é num escritório com ar condicionado numa zona segura de Damasco. Ou seja, todos sabem, menos nós. Nós somos a carne de canhão da “opinião pública” destinada a legitimar o apoio a um ou a outros. Para nós, sobra o outro lado da guerra, o da desinformação, hoje tão fácil de fazer usando as redes sociais, filmes de telemóvel que não se sabe se são verdadeiros ou não, mas circulam. Imagens fortes destinadas a obter ganhos nas opiniões públicas são distribuídas com a menção em letras pequenas de que “não houve verificação independente”. Os jornalistas e os militantes de todas as causas simplificam e arranjam bons e maus, para ajudar á mobilização. Veja-se a Líbia, ou, para outros gostos, o Iraque. A França, que ainda acha que a Síria está na sua área de influência depois de a ter reivindicado na partilha do império otomano com o argumento dos reinos normandos das cruzadas, quer intervir, mas não tem meios. Precisa do Reino Unido e dos EUA, em que há também vontade de intervir para limitar geopoliticamente uma Rússia que, cada vez mais, assume a política soviética e pôr na ordem o Irão. 

Podemos tentar aplicar a racionalidade. Assad sabe que as armas químicas são a “linha vermelha”, alguém tem que fazer alguma coisa para que essa “linha” seja ultrapassada. Assad na actual situação militar, que lhe é favorável, não precisa de usar armas químicas. Pelos vistos dizem que ele as usou, certamente para provocar sem necessidade uma resposta militar, nem que seja apenas punitiva. Racionalmente seria uma imbecilidade, mas é possível. Do lado dos grupos da oposição, também se sabe que a “linha vermelha” são as armas químicas, logo a racionalidade é fazer uma provocação qualquer para comprometer o regime e forçar a mão de americanos, franceses e ingleses. Os civis não contam para nada. Racionalmente seria assim, mas neste lado do mundo a crueldade absoluta anda à solta. Vamos continuar a ver na televisão.

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EARLY MORNING BLOGS  


2350 

"Não só vos condenam os homens pelo que vós nunca imaginastes, mas condenam-vos pelo que nem eles imaginam de vós."

(Padre António Vieira) 

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29.8.13


O NAVIO FANTASMA (33)



Agora vem aí a vingança.

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28.8.13


EARLY MORNING BLOGS  

2349

"Quem hoje se atreveu ao criado, amanhã se atreverá ao senhor."

(Padre António Vieira)

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26.8.13


PREÇOS DA COBARDIA  (3): NÃO HÁ RESPOSTAS TECNOCRÁTICAS
Estes conflitos não têm resposta tecnocrática, aquela para que o poder central se pode inclinar, encontrando critérios vagos e genéricos para decidir da localização da nova junta comum. A realidade local inclui factores que não são facilmente redutíveis a critérios objectivos. O mais importante é a história, essa coisa intangível para os tecnocratas, mas que pesa muito. Para além disso, a proximidade geográfica, ou a demografia, pode não reflectir os “locais centrais” da actividade económica e as deslocações das populações, assim como os equipamentos sociais e culturais são vistos como pertencendo a uma localidade e não a outra, tanto mais que muitos, dos mais antigos, resultam da contribuição das pessoas e de mecenas locais. 

Se os tempos fossem de abundância, estes problemas seriam minimizados pela consciência de que uma localidade não iria perder muito, perdendo a sede da freguesia. Na actual situação, em muitos casos com populações idosas e sem transportes, é uma verdadeira quebra imediata da qualidade de vida. Ao adiar-se esta decisão que deveria ser coincidente com a fusão das freguesias, transportou-se o problema para o terreno eleitoral, o que é dador de legitimidade e factor de mobilização, para os grupos que participarão na competição. Semeou-se assim, pela cobardia, um fogo pelas searas secas.

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PREÇOS DA COBARDIA  (2): DECISÕES ADIADAS E CONFLITOS 

Ambas as decisões são aquelas que vão de facto materializar a fusão e, quer uma quer, outra mexem com poder de facto. No nome, o poder é simbólico, mas já houve cenas de pancadaria para decidir se uma barragem se chamava Crestuma ou Lever, e há mortos na história recente dos conflitos locais. Ora não é de prever que a solução provisória, a medo também, que deu origem a nomes como União das Freguesias de Santa Iria da Azóia, São João da Talha e Bobadela, possa subsistir muito tempo. Apenas em Lisboa, que fez o processo a tempo e sem a pressão de dar alguma coisa à troika, esse problema foi resolvido. 

Depois, há a mais complicada das decisões, a relativa à sede da freguesia. Esta é uma questão muito delicada visto que, com a desertificação do país de correios, serviços administrativos, tribunais, postos de saúde, a localização da sede da freguesia numa área que era antes ocupada por duas ou várias freguesias significa uma perda de qualidade de vida nas freguesias que ficam sem junta aí localizada. As juntas de freguesia ainda são uma das raras fontes de serviços, efectivamente próximos das pessoas, e que as ajudam a preencher os papéis dos impostos, a guardar o correio, a executar algumas tarefas burocráticas e a cuidar da “terra”. 

O resultado destes adiamentos cobardes é que, em muitas freguesias fundidas, as listas, em particular as listas de independentes, são expressão encapotada de grupos de uma junta extinta contra outra, esperando os seus proponentes que a vitória eleitoral lhes dê vantagem na decisão a posteriori quanto à localização da sede da freguesia. Isso transporta um intenso e muitas vezes agressivo localismo para a decisão eleitoral, ultrapassando as divisões ideológicas e partidárias, fazendo votar aldeias e vilas umas contra as outras e tornando o resultado eleitoral numa “vitória” não de pessoas, partidos ou sensibilidades locais mas num conflito local. Os efeitos no dia seguinte aos resultados eleitorais são imprevisíveis, mas há pessoas tratadas de “traidores” quando participam em listas entendidas como sendo da “outra” antiga freguesia, agora vista como inimiga.

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PREÇOS DA COBARDIA  (1)
Um exemplo típico da cobardia política dos governantes é o que se está a passar nas freguesias. As freguesias têm menos interesse para os media sediados em Lisboa porque  não estão, na sua esmagadora maioria, no Portugal que vem na comunicação social. As excepções são os incêndios e as festas com o Quim Barreiros no Verão, e as feiras gastronómicas de “petiscos” locais, para preencher a silly season. A vida política, social, cultural, religiosa, a nível da divisão administrativa mais próxima das pessoas e que conheceu uma profunda transformação no último ano com a fusão de freguesias, faz parte daquele Portugal ignorado a não ser quando um qualquer conflito maior ai nasce. Uma das razões da crise dos media é também essa, em particular da imprensa, a ignorância, quando não o desprezo, pelo Portugal onde vivem milhões, fora das cidades e que são tratados como paisagem.

Ora, esse Portugal vai dar mais que falar do que se imagina, devido ao facto das fusões de freguesias serem apenas uma realidade de papel que ainda não teve reflexos na realidade local. Mas, com as eleições autárquicas, isso vai-se alterar e o enorme potencial do conflito dessas fusões em muitas freguesias já se está a manifestar no processo eleitoral. Os decisores da fusão das freguesias, – uma medida destinada a enganar a troika para ocultar a não execução da fusão de concelhos, essa sim que vem no memorando – sabiam que se tomassem duas decisões lógicas, mas perigosas, antes das eleições isso iria causar certamente muitas perturbações no processo eleitoral. Essas decisões são duas: o nome e a sede da nova freguesia. E adiaram-nas por cobardia.

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EARLY MORNING BLOGS  

2348 - ...misery acquaints a man with strange bedfellows.

Trinculo: Legg'd like a man! and his fins like arms! Warm, o' my troth! I do now let loose my opinion, hold it no longer: this is no fish, but an islander, that hath lately suffer'd by a thunder-bolt. 
[Thunder.]
 Alas, the storm is come again! My best way is to creep under his gaberdine; there is no other shelter hereabout: misery acquaints a man with strange bedfellows. I will here shroud till the dregs of the storm be past. 

(Shakespeare)

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© José Pacheco Pereira
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