ABRUPTO

7.6.13


O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (19)É SÓ DEIXA-LOS POUSAR


Alguns dos que mais rasgaram as vestes quando, em protesto contra os desvios políticos e programáticos no PSD, coloquei o símbolo do partido de pernas para o ar (na realidade eram eles que o viravam do avesso...), hoje fazem campanhas eleitorais fugindo como o Diabo da cruz de serem identificados pelo símbolo do PSD e pelas suas cores. Não posso deixar de notar a ironia do destino, assim como a sólida verdade... de que o material tem sempre razão.

(url)

5.6.13


O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (18):  
MOLEZA, MEIAS TINTAS, PROCURA DE RESPEITABILIDADE, POLÍTICA DE PHOTO OPPORTUNITY, VAZIO E POMPA

Há mil razões pelas quais Soares é melhor do que Seguro, sendo que a comparação quase que é afrontosa. É que Soares, mal ou bem, muitas vezes mal, tem vontade que "isto" mude, e Seguro não. Seguro quer herdar "isto" de bandeja, com o cortejo de sempre de salamaleques à elite que marca o círculo do poder, à procura de uma gravitas que ninguém lhe atribui, não dizendo nada que verdadeiramente conte para coisa nenhuma.

O mais grave de tudo é que, pelo caminho, contribui poderosamente para agravar a crise de representatividade que é a marca negra da democracia portuguesa dos nossos dias.

(url)

2.6.13


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

(url)


MECANISMOS DE MANIPULAÇÃO QUE FUNCIONAM

1. Escolher designações habilidosas para realidades negativas

Passarei pela rama esta muito significativa manipulação, porque já falei dela várias vezes. A regra propagandística é que quem manda nas palavras, manda nas cabeças. Por isso, o confronto fez-se pelo doubletalk. O exemplo típico é passar a falar de "poupanças" em vez de "cortes", e o mais ofensivo da decência é chamar "Plano de Requalificação da Administração Pública" a um plano de despedimentos, puro e simples, sem disfarces. O comunicado do Conselho de Estado reproduz também este tipo de linguagem orwelliana.

2. Ocultar o que corre mal no presente com anúncios futuros do que vai correr bem.

Um exemplo típico é a última declaração do ministro das Finanças, numa altura em que se conhecem mais uma vez maus resultados da execução orçamental. Bastou ele acenar com medidas de incentivo fiscal ao investimento, em abstracto positivas, no concreto, pouco eficazes, para servirem de mecanismo de ocultação das dificuldades de execução orçamental. E como o "gatilho" (o nosso ministro pensa em inglês) dessas medidas é apresentada com a coreografia verbal da novidade e a encenação do ministro "inimigo" ao lado, estão garantidos alguns editoriais e comentários positivos. Tivemos já, há umas semanas, algo de semelhante, com o plano de "fomento industrial", aliás um remake de vários outros anúncios entretanto esquecidos. 

O problema é que o Governo já percebeu que tem que utilizar uma linguagem de "viragem para o crescimento", mas as medidas mais significativas em curso e com efeitos imediatos são cortes no rendimento das pessoas e famílias. Não deveria o real ser tido em conta, face ao virtual? Deveria se não fosse a cenoura da novidade.

3. Escolher metas do futuro manipulando o seu significado para obter resultados propagandísticos no presente.

O melhor exemplo é a história do "pós-troika" para que colaboraram recentemente Portas e o Presidente da República. Portas fez um tardio e pouco convincente arroubo nacionalista contra "eles", os homens da troika, justificando a sua aceitação de medidas de austeridade gravosas com a necessidade de os ver pelas costas em 2014. O Presidente fez pior: usou o "pós-troika" para minimizar o caos governativo do presente em nome de uma inevitabilidade da mesma política para o futuro. Pretendeu alargar a base de sustentação do seu discurso no 25 de Abril, consciente, mesmo que não o diga, de que ele lhe tolheu a margem de manobra. Mas o Conselho de Estado teve os efeitos contrários ao que pretendia. O que ambos, Portas, o Presidente, somados a Gaspar-Passos o actual tandem governativo, pretendem é obter dois resultados inerentemente contraditórios: festejar a saída da troika como uma grande vitória governativa e depois garantir que tudo continua na mesma sem a troika

4. Concentrar a atenção nas medidas que vão cair e fazer passar, por distracção, outras bem mais gravosas.

Um exemplo típico foi a intervenção de Paulo Portas sobre o "cisma grisalho". Portas concentrou-se naquilo a que chamou "TSU dos reformados" - designação que ele próprio criou com a habilidade de autor de soundbytes para, com a embasbaquice normal da comunicação social, facilitar a concentração de atenção num nome -, deixando deliberadamente na obscuridade todo um outro conjunto de medidas contra os reformados e pensionistas, muito mais gravosos do que aquele que recusava. O resto é o habitual: toda a gente passou a falar apenas das peripécias da "TSU dos reformados", e esqueceu as outras. 

5. Deixar fluídos todos os anúncios de medidas, para criar habituação e poder recuar numas que geraram mais controvérsia e avançar noutras que ficaram distraídas.

Já fiz uma vez esta pergunta e repito-a: alguém sabe, do pacote dos 4 mil milhões, o que é que está decidido, o que é que está "aberto", o que é uma "hipótese de trabalho", o que é para discutir na concertação social, o que foi anunciado e deixado cair, que medidas são efectivamente para valer? Não se sabe, nem o Governo sabe. Sabe as que deseja, mas hesita em função das pressões da opinião pública, do medo do Tribunal Constitucional, do receio dos efeitos na UGT, nas suas clientelas.
Por isso temos navegação tão à vista que o navio parece estar encalhado. Não está, porque, nos interstícios, as medidas que são mais fáceis do ponto de vista administrativo, dependem de despachos, e não precisam ir à Assembleia ou ao Presidente, vão sendo tomadas. São todas do mesmo tipo: retiram direitos, salários, horários, condições de trabalho.

6. Fazer fugas de informação de medidas draconianas e violentas de austeridade, para depois vir-se gabar de que as evitou.

Um exemplo típico são as conferências de imprensa em que se valoriza determinadas medidas dizendo que elas permitem evitar outras muito piores, de que se fizeram fugas deliberadas. Joga-se com o medo, e com as expectativas negativas, para manipular as pessoas de que afinal, perdendo muito, sempre estão a ganhar alguma coisa. A comunicação social participa no jogo.

7. Manipular o efeito de novidade nos media para dar a entender que o Governo mudou.

O melhor exemplo é a utilização do novo ministro das relações públicas e marketing do Governo - no passado chamar-se-ia ministro da Propaganda -, Poiares Maduro, cujas intervenções se caracterizam até agora pela repetição vezes sem conta da palavra "consenso" e depois, nas questões cruciais, a repetir o mais estafado discurso governamental. Veja-se o que disse, contrariando todo o mais elementar bom senso e as evidências públicas, sobre não haverem divergências no Governo entre Portas e Passos, ou entre a ala do "crescimento" e a ala do "rigor orçamental". Ou, numa manipulação da ignorância mediática, de que eventos como as duas declarações sucessivas de Passos e Portas são "normais" em governos de coligação. O único caso, vagamente comparável, é o do par Cameron-Clegg, mas este tipo de eventos não são normais em nenhuma circunstância. O que seria normal é que a seguir a uma declaração com a que Portas fez, ou este pedisse a demissão ou fosse demitido. Esqueci-me de dizer que eles no intervalo da propaganda, são todos "institucionalistas".

8. Acentuar as expectativas negativas nas próximas eleições autárquicas, para obter ganhos de causa se os resultados não forem tão maus como isso.

As eleições autárquicas reflectem a situação política nacional, mas são das eleições mais afectadas pelo contexto local, ou pelas personalidades escolhidas. O PSD terá sem dúvida maus resultados eleitorais pela reacção contra o Governo, contra Passos e Gaspar e o ex-ministro Relvas. Terá também péssimos resultados por apresentar maus candidatos às eleições em muitos concelhos, em particular os mais importantes. Nesses duplicará os factores negativos da reacção contra o Governo, com candidatos envolvidos em polémicas desnecessárias ou escolhidos apenas pelas conveniências do aparelho. Mas também é verdade que em muitos sítios, em que o voto é mais exigente, o PS apresenta também candidatos muito maus, vindos como os do PSD dos equilíbrios aparelhísticos e do pagamento de favores internos ao grupo de Seguro.

Por isso, não é líquido que não haja um efeito de minimização dos estragos que permita transformar resultados medíocres em resultados razoáveis, logo, no actual contexto, numa "vitória", jogando com expectativas muito negativas. A comunicação social, com a habitual servidão aos lugares-comuns, ajuda ao baixar tanto as expectativas que qualquer resultado que não seja uma catástrofe nuclear possa ser visto como bom.

Há muito mais, mas fica para outra vez.

(url)


A MENTIRA DESTA SEMANA É…

… que o governo “pondera” pedir uma nova revisão do défice previsto à troika para 2013, não porque não o conseguiria atingir, não porque as previsões do governo sobre o “crescimento” de 2014 vão falhar, não porque está dividido, acossado e desesperado, não porque não tem alternativa a não ser falhar mesmo o défice e isso é mau para a “imagem”, mas porque, num súbito amor pelos portugueses e pelos reformados, pretende estancar a austeridade e promover o “crescimento”. Num bom retrato do estado da governação, o ministro Paulo Portas andou toda a semana a colocar nos jornais que o mérito desse feito é seu. Num bom retrato da comunicação social, os jornais e as televisões, repetiram que o mérito era de Portas. Continuem assim que vão bem.

(url)



O POLITICAMENTE CORRECTO FAZ MAL À CABEÇA: O “TRABALHO SEXUAL” 

Tem alastrado nos jornais de referência nos últimos dias, em particular no Público e no Diário de Notícias, a expressão “trabalho sexual” para designar aquilo que até ontem era conhecido como prostituição. No Público escreve-se, numa biografia de uma mulher atingida pela crise, que “abandonou o trabalho sexual” para se dedicar a enrolar cigarros no Bairro Alto, no Público e no Diário de Notícias noticia-se a incidência do vírus HIV em cerca de 9% dos “trabalhadores do sexo”. Esta última notícia implica que, sendo assim, a infecção com HIV é uma doença profissional como a silicose nos mineiros, dado que “trabalho” é “trabalho”. 

Sucede que este surto do politicamente correcto é, como de costume, dissolvente para o pensar, reforça o estado actual das coisas e é muito conservador, apesar dos seus utilizadores estarem convencidos que são muito progressistas. A verdade é que a prostituição não é um “trabalho”. Ponto. Despir-se num varão é trabalho. Muitas formas de exibir o corpo, masculino ou feminino, são trabalho, mesmo com todos os inuendos sexuais podem ser trabalho. E por muito que as fronteiras possam no limite ser ambíguas, como todas as fronteiras no corpo, prostituir-se é outra coisa muito diferente. 

O CRIME DE SER “PATRÃO” DESTES “TRABALHADORES” 

Nem sequer é preciso ir para o terreno complexo destas distinções, basta ficar pela lei. Se a prostituição é “trabalho sexual”, por que razão é que os patrões dessa actividade cometem um crime por o serem? E por que razão é que mesmo as “trabalhadores/as” que fazem esse trabalho como “empresárias a nível individual”, não podem passar do anúncio no jornal ou na rua, para promover a sua empresa, não podendo arrendar um local para esse efeito, e estando sempre no terreno da ilegalidade e do crime? E, argumento decisivo nos nossos dias, por que é que não pagam impostos ao estado e não tem segurança social? 

TRATAR O QUE É DIFERENTE PELA DIFERENÇA 

Se se pretende defender a legalização da prostituição, então deve começar-se a defesa da causa por não tratar o que é diferente como semelhante, porque na bonita palavra “trabalho” não cabe certamente a violência e a extrema dureza do que é para as mulheres (mais para elas) e para os homens prostituir-se no Portugal de 2013. Há brutal exploração e a vida miserável em muitas profissões e condições, por que há muitos trabalhadores que também conhecem realidades de uma vida muito dura. Mas com o uso do “politicamente correcto” há uma proporcionalidade que aqui é perdida e o que vai à vida com a “vida”, que é o enorme peso do contexto social, da marginalidade, da “vergonha” numa sociedade que tem a vergonha na ponta da língua e que condena à indignidade com muita facilidade. A que se acrescenta a dependência, a impunidade, a violência física e mental, a droga, os filhos abandonados na ama, a queda na miséria nestes anos de empobrecimento, as ameaças, no fundo a indignidade da pessoa humana que é intolerável numa sociedade que se pretende assentar no respeito pelos mais fracos e que mais sofrem. Prostitutas felizes só nos filmes franceses. “Trabalhadores do sexo” para pagarem os estudos de Psicologia que os pais em crise não podem pagar, só nos filmes portugueses. 

A LEGALIZAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO 

A prostituição é como se sabe uma velhíssima questão, a que aliás de há cem anos para cá se designa como “a profissão mais velha do mundo”, a versão antiquada do “trabalho sexual”. A discussão da sua legalização é mais do que legítima, é desejável até pela protecção que traz a quem está atirada a uma selva com demasiadas bestas ferozes. Mas o uso destas expressões politicamente correctas como o “trabalho sexual”, mostram apenas que se tem uma ideia abstracta daquilo que se está a falar, introduzem um efeito de acalmia e “normalização” numa situação que é tudo menos normal. Leiam o livro já antigo e talvez esgotado (é para isso que servem as bibliotecas) de Isabel do Carmo, Putas de Prisão, escrito com base no seu convívio com prostitutas reais e não como as que aparecem em teses mais ou menos assépticas dedicadas ao “trabalho sexual”, esse eufemismo politicamente correcto.

(url)


EARLY MORNING BLOGS  

 2320

Our country is now taking so steady a course as to show by what road it will pass to destruction, to wit: by consolidation of power first, and then corruption, its necessary consequence. 

(Thomas Jefferson)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]