ABRUPTO

21.7.13


   
 A SOBERANIA PARA ALÉM DAS SELVAGENS 

 Os Presidentes portugueses periodicamente visitam as Ilhas Selvagens “em missão de soberania”, ou seja para dizerem que estas ilhas, mesmo junto das Canárias, são portuguesas e o mar à sua volta é também português. A intenção é clara, visto que os espanhóis são ambíguos quanto à soberania portuguesa do arquipélago. Porém, a afirmação de soberania como valor nacional está longe de se reduzir a estas visitas presidenciais. Bem pelo contrário, a crise da soberania nacional está em actos muito mais graves, como seja a redução continuada da capacidade da marinha portuguesa para controlar mesmo que nominalmente as nossas águas atlânticas, pondo em risco que Portugal possa exercer as responsabilidades internacionais de controlo marítimo que sempre exigiu como suas. A propriedade sem a presença do dono, é meio caminho andado para se perder. 

Ou pior ainda, quando vemos um Ministro dos Negócios Estrangeiros dizer na Assembleia da República que Portugal é um protectorado, sem que imediatamente se levante um gravíssimo problema. Eu posso dizê-lo, Adriano Moreira pode dizê-lo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros não pode dizê-lo, nem admiti-lo. Que instituição política democrática admitiu ou permitiu que Portugal passasse a um protectorado? Fomos invadidos pelo estrangeiro? Rendemo-nos em batalha? A afirmação de Portas, na sua qualidade institucional de Ministro, mostrou, mais que cem mil ausências às Selvagens, como os nossos governantes tão patrióticos de boca, consideram que assinatura do memorando significou institucionalmente abdicar da soberania nacional, muito para além de pagar ou não pagar aos nossos credores. Se é assim, são culpados de traição. Mas ninguém quer saber de nada, ser livre, ou ser súbdito, é o mesmo.

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© José Pacheco Pereira
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