ABRUPTO

9.2.13


A TV RURAL  E A FELICIDADE PELA AGRICULTURA


Talvez poucas coisas sejam mais simbólicas do pensamento do poder dos nossos dias, se é que se pode chamar pensamento “àquilo”, é a proposta vinda da maioria da Assembleia, PSD e CDS, mais uns PS que são iguaizinhos, de “sugerir” à RTP produzir um remake da TV Rural do engenheiro Sousa Veloso. É um puro condensado de tudo o que está mal na elite do poder dos nossos dias, em versão mesquinha e ridícula e gritante. O gritante tem uma vantagem. 

Esta proposta revela tudo: ignorância em geral, falta de mundo, falta de vida fora da politiquice, ignorância do que deve ser a relação do poder político com a televisão (mas conhecimento, mostrado á revelia da vontade, do que é o “serviço público”); ignorância do que é a televisão em 2013; ignorância do que é a agricultura, ignorância do que são hoje os agricultores, ignorância do agro, da terra, da lavoura, do campo, de Portugal. Para eles o campo é tão mítico como uma personagem do Harry Potter, para usar uma comparação mitológica que devem conhecer e deixar-me de Grécia, Roma e a Bíblia, que não conhecem de todo. 

Que o ministério da lavoura precise de um espaço de propaganda entende-se. Que haja quem precise no âmbito dessa mesma propaganda do poder, de acreditar que há uma multidão de jovens desempregados que se volta para a agricultura, sem crédito para comprar as terras, sem crédito para comprar sementes e adubos e acima de tudo sem ter a mínima noção do que é fazer uma empresa agrícola em 2013, e ainda menos do que é o trabalho na terra, entende-se. Que haja quem pense que ainda se pode ir para a televisão insistir nos tratamentos para o míldio e o oídio, como fazia e bem o bom do engenheiro Veloso, ou recitar o Borda de Água e os seus bons conselho quanto ao que se deve plantar em Fevereiro, entende-se. Quem tenha uma vaga ideia do que era o piquenicão e pensa que este ainda pode sobreviver às festas dos supermercados, entende-se também. No fundo, tudo se pode entender, mas tudo ao mesmo tempo, poupem-nos.

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© José Pacheco Pereira
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