ABRUPTO

7.6.12


COISAS DA SÁBADO:
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA (3)

O que é que os vemos fazer nessa respiração quotidiana? Telefonarem-se, trocarem mensagens e SMS a cada minuto que passa, num fluxo de pedidos, favores, trocas de informações, negociação de notícias, ou bloqueamento de notícias. Trocam entre si “bons ofícios”, pedidos de favores para si ou para a família, espionagem de fraca qualidade, indiscrições e intrigas. Agências de comunicação e marketing feitas da mesma massa e das mesmas pessoas, aliás as mesmas que recorrentemente aparecem (agências de comunicação e grandes escritórios de advogados são dois dos “serviços” obrigatórios deste “middle power” ), e obscuras empresas de “informação reputacional”, com acesso a dados de polícia e serviços de informação, associados em operações de manipulação da Internet com centenas e centenas de falsas mensagens de Twitter ou comentários falsos colocados em blogues ou artigos de jornais que não são moderados. Não é novidade nenhuma, mas fica aqui uma confirmação de como é feita uma guerra tóxica na Internet em Portugal, insisto em Portugal. Alguns ingénuos que acham que comentários não moderados são uma forma de democracia ou que acham que as redes sociais servem para “medir” a opinião, deveriam ler tudo isto com atenção. Não há aqui inocência nenhuma, e não me surpreende ver alguns dos propugnadores da Internet selvagem participar com empresas fantasmas em campanhas pagas para manipular a opinião. 

(Continua.)

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COISAS DA SÁBADO:
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA (2)

Os círculos são os habituais: os lugares de estado capturados pela ganância, os círculos políticos movidos pela influência e pelo acesso a informações, gabinetes e pessoas; sociedades discretas e secretas que funcionam como locais de concentração e distribuição de poderes, cargos e dinheiros; empresas que prosperam numa zona obscura entre Angola, Cabo Verde, Portugal, onde generais e familiares dos governantes corruptos africanos se tornam “grandes empresários” e enviam param Portugal milhões para lavagem, coisa que prestimosos bancos de famílias com nome, se prestam sem pestanejar a fazer; ou então empresas que vivem da decisão política, seja de governantes seja de autarcas, e que por singular coincidência são as empresas onde trabalham mais políticos, ex-políticos e futuros políticos. Ambiente, resíduos, energias renováveis, obras públicas, etc., etc., E os jornalistas, que de há muito tempo chamo a atenção de que são, - salvo honrosas excepções, mas excepções, - parte deste contínuo de poder “médio”, quer através da promiscuidade com políticos que os chamam como assessores, os devolvem depois às redacções e os nomeiam para cargos na comunicação social do estado ou em entidades reguladoras, quer através de serviços prestados a agências de comunicação social, cuja relação com os profissionais da comunicação social é tudo menos transparente. No meio disto tudo, abundam políticos, assessores, jornalistas, “consultores”, com acesso aos nossos frágeis corredores do poder, ocupados por gente igual, quando não circulante entre funções que fazem parte do mesmo contínuo. 

(Continua.)

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PONTO / CONTRAPONTO / QUADRATURA
 

A tempestade perfeita do futebol atingiu a SICN e todas as outras emissoras (a começar pela RTP que é suposto ser um "serviço público" e ter uma  programação distinta, mas que é a primeira a passar horas e horas de logomaquia futebolística...) . Por isso, os horários de todos os programas estão generosamente subvertidos. A Quadratura do Círculo passa às quintas-feiras, às 20 horas, e o Ponto Contraponto, às 9.30 de domingo. As repetições de madrugada no horário do galo não foram afectadas. Passada a tempestade, as coisas voltarão ao normal.

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COISAS DA SÁBADO:
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA 
Os factos referidos nos artigos da Visão e da Sábado da semana passada sobre o “caso Silva Carvalho” deveriam merecer mais atenção do que apenas a controvérsia sobre a implicação de Miguel Relvas no assunto. Deixo de parte a muito significativa paixão que a opinião ilustrada tem agora pelos eufemismos, chamando “contradições” e “inverdades” à mentira, e o correlativo medo das palavras simples, para analisar essa slice of life que as mensagens, SMS, encontros, revelam. 

Revelam em primeiro lugar como funciona habitualmente uma parte da nossa elite de poder. Não estamos a falar dos bas fonds, pela simples razão que não há outros fonds que não sejam esses. A relação entre os de cima e os de baixo é mais correctamente dada pela metáfora inglesa do upstairs e do downstairs. Trata-se não de toda a elite, mas sim do funcionalismo político-partidário-jornalístico da elite, visto que a elite que assim se considera, - sem nunca se designar como tal, - não mete as mãos na lama, manda meter. O que nós pudemos ler nessas revistas, foi o sucessivo toque de campainhas e de telefones internos que transmitem as ordens e os pedidos, entre os andares médios e os de baixo se houver cave e os de cima se houver mansarda. Os andares médios aparecem noutros processos e noutras “operações” como a “Furacão”, ou a actual de fuga de capitais para a Suíça. 

Disse “habitualmente” para que não se pense que tudo o que lá vem retratado é excepcional, bem pelo contrário, é o dia-a-dia. Num certo sentido é um remake das conversas dos “socráticos” de há dois ou três anos, que estão no processo das sucatas, no Freeport, no Taguspark, e nas manigâncias à volta da TVI. É tudo a mesma coisa, o mesmo tipo de personagens, quando não são as mesmas, o mesmo trade off, a mesma corrupção de mentes e corpos, a mesma promiscuidade, o mesmo soberano desprezo por leis, regras, procedimentos, a mesma cupidez, pequenez e mesquinhez. E há mais palavras terminadas em “ez” para usar aqui. 

(Continua.)

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EARLY MORNING BLOGS   
2220 - Po' Boy Blues
 
When I was home de
Sunshine seemed like gold.
When I was home de
Sunshine seemed like gold.
Since I come up North de
Whole damn world's turned cold.

I was a good boy,
Never done no wrong.
Yes, I was a good boy,
Never done no wrong,
But this world is weary
An' de road is hard an' long.

I fell in love with
A gal I thought was kind.
Fell in love with
A gal I thought was kind.
She made me lose ma money
An' almost lose ma mind.

Weary, weary,
Weary early in de morn.
Weary, weary,
Early, early in de morn.
I's so weary
I wish I'd never been born.
 
(Langston Hughes) 

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4.6.12



EARLY MORNING BLOGS   
2219

"Anche la miseria è un'eredità."

(Ricardo Bacchelli)

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3.6.12


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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NAS DEMOCRACIAS SÓ HÁ PRESENTE

Um dos argumentos que circulam para legitimar a política dos nossos dias é o de que temos que actuar no sentido de não onerar as gerações futuras com os encargos do presente. Em si é um truísmo, que vale o mesmo que todos os truísmos, ou seja, pouco. A verdade deste truísmo é auto-evidente: cada geração, a seu modo, "hipoteca" o futuro para viver o presente. Pode depois discutir-se o grau dessa "hipoteca", e considerar que ela é demasiado onerosa e desequilibrada, a favor das gerações do presente, destruindo as possibilidades de gerações futuras terem uma vida decente. O problema existe e é real, mas em democracia não pode ser colocado assim: o modo como se actua no presente tem um conjunto de regras e condicionantes. O "futuro" não entra deste modo no presente, nem a ideia de que o presente deixa "heranças" para o futuro pode ser vista de forma linear, porque não só há muitas "heranças" ao mesmo tempo, como também o "futuro" escolhe muitas vezes desenvolver-se por vias muito diferentes das que nós pensamos no presente ele ir ter.

O dilema destas coisas é que em democracia nunca há "futuro" no presente, como também não há qualquer garantia de que as escolhas eleitorais sejam as "melhores", nem que sejam necessariamente corrigidas no próximo acto eleitoral. O sistema político que entrega aos cidadãos as decisões fundamentais pelo voto, que subordina os resultados eleitorais a uma lei e a um direito que teve ele próprio uma origem no voto, e que se sustenta por um conjunto de princípios ideológicos, aceites livremente pelos homens, como é o caso dos chamados "direitos do homem", não vive no futuro, mas no presente. Pode tomar decisões com um enorme impacto no futuro, mas não as toma em nome desse "futuro", a não ser pela mediação da ideologia ou da religião.

Numa democracia não há teleologias da história, não há utopias do futuro, não há "paraísos celestes", onde o homem pode alcançar o que não conseguiu nesta terra, mas apenas a "ideia nova" que a Revolução Francesa trouxe, a da "felicidade". E a felicidade não se vive no futuro, nem o "bem comum" dos presentes pode ser moldado ao hipotético "bem comum" do futuro. Nem, aliás, os eleitores deixam, porque nunca votam em sacrifícios do presente, em nome do bem-estar hipotético do futuro. Pode ser uma das grandes imperfeições da democracia, mas é assim que as coisas funcionam e o modo como se pretende "corrigir" esse defeito leva a sistemas totalitários e a uma destruição do "futuro" muito mais acentuada do que a imperfeição do presente.

Em democracia, não há política que não seja feita para os homens do presente, para a vida que eles têm e não para a que os seus filhos irão hipoteticamente ter. E digo sempre "hipoteticamente" porque o modo como escolhemos o futuro e as suas condicionantes tem muito a ver também com as opções do presente, para as pessoas do presente. Como, insisto, não há "paraísos celestes" em democracia, tudo é terrestre, decidido e feito para hoje. Aliás, é mesmo assim que actuam os que nos falam das "gerações do futuro". O argumento circulante é por isso ideológico, implica alguns pressupostos que são pouco democráticos, e é traduzido por políticas para o presente e só para o presente. É por isso que o argumento da "herança" é instrumental na política do presente e pouco tem a ver com o futuro, muito menos com os nossos "herdeiros". A realidade é que ninguém sabe o que vai moldar o futuro, muito menos se são essas opções feitas em seu nome que serão as determinantes.

Vamos à questão da "herança", que aparece no discurso político actual apenas associada à dívida e aos seus encargos, assim como a rendas e pagamentos futuros, como é o caso dos que decorrem das PPP. Este é um facto impossível de negar e tem todo o sentido trazê-lo à discussão do presente. Porém, convém fazer essa discussão de modo diferente da que se faz nos dias de hoje. O modo como este argumento é usado pelos propagandistas do Governo é, como disse antes, justificar as medidas do presente, e no caso actual todas as medidas do presente, em nome das "gerações futuras". É um discurso político de legitimação que instrumentaliza uma parte dos factos para justificar políticas concretas, mas, quando analisado, usa a "herança" como "argumento único", esquecendo que das mesmas políticas haverá "heranças" muito contraditórias, muitas das quais são bem perniciosas para as "gerações futuras".

Por exemplo, um dos problemas estruturais de Portugal, decisivo para a nossa competitividade, que não depende apenas de salários baixos e da erosão dos direitos laborais, é o da baixa qualificação da mão-de-obra. Este problema é conhecido, identificado e apontado como um dos principais impeditivos ao desenvolvimento português. O Governo Sócrates usou-o como argumento para as Novas Oportunidades, um programa que tinha virtualidades, mas que foi rapidamente abastardado e transformado num "programa de bandeira" do PS, oferecendo diplomas desqualificados e alimentando estatísticas artificiais de adesão e sucesso. Saliente-se, aliás, que quer neste caso das Novas Oportunidades, quer no programa Magalhães, o PSD na oposição procedeu sempre por omissão, criticando os custos e os estratagemas de financiamento, mas evitando sempre fazer críticas de fundo. Os programas eram "populares" e por isso o PSD não lhes tocou. Sei muito bem disso, porque nestas colunas fiz a seu tempo críticas de fundo aos dois programas e o PSD nunca as assumiu, com a sua equipa da educação a preferir o silêncio. Hoje a história é reconstruída retrospectivamente.

Ora, quer o fim das Novas Oportunidades e a sua substituição por coisa nenhuma, quer toda uma série de medidas no sector de educação, enroupadas num discurso legitimador mas que são, na verdade, medidas de contenção de gastos - o número de alunos por turma é um caso -, vai ter o efeito de não só prolongar a baixa qualificação da mão-de-obra nacional, como de agravá-la. Eis uma "herança para as gerações futuras" de que ninguém fala. O mesmo se pode dizer sobre a depauperação da classe média, que destrói o potencial de dinamismo social no "futuro" e da destruição do tecido produtivo, que nos vai fazer arrancar do quase zero, se arrancarmos, do aumento da exclusão social, do desequilíbrio das relações laborais, da crescente desertificação do interior. Em suma, não sabemos que papel vai ter no futuro o empobrecimento do presente, mas presumo que não vai ser positivo.

Claro que tudo isto tem causas no presente e algumas dessas causas têm a ver com a política do passado imediato. Hoje isso é evidente, e tem todo o sentido a punição política, sempre imperfeita, mas existente, sobre esses responsáveis. Mas ainda estamos a mover-nos no terreno sólido, o da política do presente. Porque se aplicarmos, com o insight de sabermos o que aconteceu, para o passado, o argumento da "herança", então temos que ignorar que muitas opções tomadas, em particular com o recuo de pelo menos duas décadas, eram opções inteiramente racionais à época e pareciam ser aquelas que mais acautelavam o futuro. E não foram.

Há um dado essencial na vida política democrática: no futuro estamos todos mortos. Do futuro não sabemos nada. Ponto.

(Versão do Público de 2 de junho de 2012.)

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2.6.12


EARLY MORNING BLOGS   
2218

"Il n’y a aucun exemple que la vérité ait été nuisible ni pour le présent ni pour l’avenir."

(Denis Diderot)

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1.6.12


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (149): 
COMO É QUE AS COISAS SE FAZEM NAS REDES SOCIAIS
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
 

Sábado, 31 de Maio de 2012.


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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (148)
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
 
Em português, uma mentira é uma mentira, não é uma "inverdade", não é uma "falta à verdade", não é "não disse a verdade", não é "omitiu a verdade", não é "ocultou a verdade" e por aí adiante. Cada vez mais amolecemos a nossa vida pública quando temos medo das palavras que devem ser ditas, com medo da sua franqueza essencial. 

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS 
 
2017

Meia verdade é uma mentira inteira.

(Provérbio judeu.)

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