ABRUPTO

31.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM) 

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30.12.12


  HOJE DE NOVO 

MANIFESTAÇÕES em directo
 
 

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29.12.12


ALGUÉM ME EXPLICA 

Ele há notícias particularmente bizarras e que passam como sendo as mais normais do mundo. Por exemplo, citando o i e o Público

O presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, prestou voluntariamente declarações no âmbito do caso Monte Branco (…) O banqueiro deslocou-se esta terça-feira, a título voluntário, às instalações do DCIAP para testemunhar sobre o que "fosse considerado necessário pelas autoridades com vista ao cabal esclarecimento dos factos", afirmou uma fonte oficial do BES. Segundo adiantou a mesma fonte, Ricardo Salgado foi ouvido na qualidade de testemunha, “enquanto cidadão, e não na qualidade de presidente da Comissão Executiva do BES”, não tendo “conhecimento da necessidade de outras diligências".

 O que é “prestar declarações voluntariamente” numa investigação de um crime? Ou seja, alguém chega ao DCIAP e diz, “façam o favor de me ouvirem”, eu não fui chamado, não fui convocado, nada sei sobre o crime em causa senão tê-lo-ia denunciado em tempo, mas mesmo assim “façam o favor de me ouvir”, como vulgar “cidadão” e como “testemunha” (de quê?). O que é que como “cidadão” Ricardo Salgado “testemunhou” sobre a rede de fuga e branqueamento de capitais investigada pelo Ministério Público? Pensei que esta figura de “declarações voluntárias” sobre “os factos” nestes termos não existia, mas parece que sim. Pelo menos é assim que vem descrita, sabendo-se que dela não resultou “a necessidade de outras diligências”. Mas por que razão é que teria que haver “outras diligências”, dado que o “cidadão”, fora da sua qualidade profissional de presidente da Comissão Executiva do BES, nada sabe do assunto? 

Isto está cada vez mais confuso. Ou não.

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EARLY  MORNING BLOGS   
 

2287 - Winter: My secret

I tell my secret? No indeed, not I:
Perhaps some day, who knows?
But not today; it froze, and blows and snows,
And you’re too curious: fie!
You want to hear it? well:
Only, my secret’s mine, and I won’t tell.

Or, after all, perhaps there’s none:
Suppose there is no secret after all,
But only just my fun.
Today’s a nipping day, a biting day;
In which one wants a shawl,
A veil, a cloak, and other wraps:
I cannot ope to everyone who taps,
And let the draughts come whistling thro’ my hall;
Come bounding and surrounding me,
Come buffeting, astounding me,
Nipping and clipping thro’ my wraps and all.
I wear my mask for warmth: who ever shows
His nose to Russian snows
To be pecked at by every wind that blows?
You would not peck? I thank you for good will,
Believe, but leave the truth untested still.

Spring’s an expansive time: yet I don’t trust
March with its peck of dust,
Nor April with its rainbow-crowned brief showers,
Nor even May, whose flowers
One frost may wither thro’ the sunless hours.

Perhaps some languid summer day,
When drowsy birds sing less and less,
And golden fruit is ripening to excess,
If there’s not too much sun nor too much cloud,
And the warm wind is neither still nor loud,
Perhaps my secret I may say,
Or you may guess.


(Christina Rossetti)

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28.12.12


VIAGEM NO PASSADO POR CAUSA DO PRESENTE

Cartazes do CDS, 1976.


Hoje tudo é muito diferente em relação ao passado, mas também muita coisa é demasiadamente igual.

No final do século XIX, princípio do século XX, o incipiente operariado português concentrava-se em poucas fábricas dignas desse nome no Norte do país, em particular no Porto, e numa multidão de pequenas oficinas em Lisboa e Setúbal e nas principais cidades do país. Eram operários e operárias, tabaqueiros, têxteis, soldadores, conserveiros, corticeiros, mineiros, padeiros, alfaiates, costureiras, cinzeladores, cortadores de carnes verdes, carpinteiros, fragateiros, estivadores, carregadores, carrejonas no Porto, carvoeiros, costureiras, douradores, etc., etc. Havia uma multidão de criados e criadas, criadas "de servir", e muito trabalho infantil em todas as profissões, em particular nas mercearias, onde os marçanos viviam uma infância muitas vezes brutal, dormindo na loja e carregando com cargas muito pesadas. Falei em operariado, mas na verdade, muito poucos correspondem ao conceito, porque se trata mais de artífices, trabalhadores indiscriminados, e em muitos casos com profissões hierarquizadas em que os aprendizes eram sujeitos a todos os abusos. Havia depois uma aristocracia operária, essencialmente entre os que faziam tarefas qualificadas e mais bem pagas, como era o caso dos tipógrafos, que sabiam ler e por isso tinham um mundo social diferente. Antero de Quental foi tipógrafo de passagem.

Deixo o campo de lado, em que a maioria dos portugueses ainda vivia, onde havia igualmente um território obscuro e pouco conhecido que despertou com a I República, os trabalhadores rurais alentejanos. Estes viviam uma vida violenta e esquecida no meio do deserto alentejano. Nos meios rurais vários grupos de trabalhadores vegetavam na mais negra miséria e vendiam o seu trabalho sazonalmente, nas vinhas do Douro, nos campos do Alentejo e Ribatejo como maltezes e ratinhos. O que de mau se pode dizer das cidades, pode-se dizer pior do campo ou das vilas piscatórias do litoral e mineiras do interior. 

A economia do mundo operário centrava-se no salário muito escasso, na renda de casa, numa vila operária ou numa "ilha" se fosse no Norte do país, onde se amontoavam em condições higiénicas e sanitárias inimagináveis. A epidemia de cólera no Porto, e a habitual ocorrência de tifo, demoraram muito anos a lembrar os governantes do problema de insalubridade da "habitação operária" e deram origem aos bairros sociais no salazarismo.

O vestuário masculino e feminino era muito grosseiro, sarja, serapilheira, chita eram comuns e os sapatos eram para usar aos domingos. Até à década de cinquenta do século XX o pé descalço era um símbolo da pobreza portuguesa. Alpergatas feitas com um bloco de madeira e uma tira de borracha de pneu eram o calçado operário mais comum. As mulheres vestiam-se ainda como se estivessem no campo e os homens já menos, mas mesmo assim o traje operário, como o fato-macaco, demorou a tornar-se comum porque era caro.

A alimentação era de péssima qualidade e a fome, e doenças associadas com as carências alimentares, como o raquitismo, eram comuns. A tuberculose era generalizada, e o alcoolismo um flagelo social. Eram igualmente comuns os traços da varíola, da poliomielite, e em certas zonas do país havia malária e kala-azar. Não havia dinheiro para ir ao médico e também não havia muitos médicos e menos hospitais, já para não falar de medicamentos. A dependência da caridade da igreja ou pública, sob formas como a "sopa dos pobres", implicava regras de comportamento disciplinares, subserviência e cabeça baixa. Havia muita mendicidade.

A prostituição, a criminalidade e o roubo eram generalizados. Havia um número elevado de "matriculadas" e um número ainda maior de mulheres que se prestavam ocasionalmente à prostituição por razões económicas. A violência sexual nas fábricas era uma forma de "direito de pernada" que ninguém contestava e a violência nas famílias sobre as mulheres uma hábito estabelecido. Em Lisboa a criminalidade "apache" de navalha, vinho e fado era a regra, nos campos o assassínio bruto à paulada e a machado associava-se ao roubo nos matos e ao incêndio de searas. A reivindicação de polícia rural está alta na lista de todas as associações de agricultores, como os senhorios urbanos temiam os seus inquilinos.

A esmagadora maioria da população era analfabeta, e os poucos que tinham algumas letras não passavam da instrução primária, muitas vezes incompleta. No entanto, havia uma reverência à escola e à instrução, como sinal de ascensão social. Para muitos pobres, o seminário era a única escola possível.

Os trabalhadores não tinham quaisquer direitos enquanto trabalhadores. Os patrões, fossem os "industriais" com dinheiro brasileiro e títulos de barão e visconde, ou os donos das pequenas oficinas de marcenaria ou de panificação, podiam decidir tudo sobre os seus trabalhadores. Os horários podiam ser de sol a sol, as condições de trabalho eram terríveis, os acidentes de trabalho e as doenças profissionais comuns, as ordens de patrões e capatazes eram indiscutíveis, os dias de doença não eram pagos, as faltas, por muito justificadas que fossem, idem, e o despedimento não tinha qualquer formalidade - chamava-se o trabalhador e "punha-se na rua". Ponto.

Durante a segunda metade do século XIX, os operários começaram a organizar-se e a reivindicar alguns muito escassos direitos. À medida que as antigas corporações desapareciam, e com estas algumas confrarias que ofereciam um escasso apoio social a grupos profissionais, apareciam associações mutualistas que pretendiam em primeiro lugar garantir um funeral decente em vez da carreta dos pobres e a vala comum, assim como algum apoio às viúvas e aos filhos, que a morte deixava de imediato na pobreza absoluta. Os peditórios eram comuns. Esse mundo da economia popular pode ser visto por um observador atento que visite alguns bairros antigos de Lisboa, onde encontra ainda restos da paisagem operária marcada pelas lojas de penhor, pelas funerárias e pelas tabernas.

Os sindicatos, no sentido moderno do termo, surgiram a partir das associações de classe e de um espírito de resistência e auto-organização, que, não sendo nunca muito forte, estabeleceu-se com tenacidade. Havia greves, algumas violentas e tumultuárias, mas também era comum que um gesto qualquer caritativo do patrão fizesse voltar os operários ao trabalho, muito agradecidos com a benesse. A relação paternal entre o patrão e os "seus" operários estava incrustada no tipo de relações sociais dominadas pela clientela e pelo patrocinato. O caciquismo era a face política dessas mesmas relações, a partidocracia actual a sua herdeira.

Do seu lado, do lado das "classes laboriosas", havia muito pouca gente, alguns raros filantropos com ideias progressistas, muitos filantropos com ideias reacionárias, e, durante a sua breve vida, um Rei D. Pedro V. E, pouco a pouco, legislação sobre o trabalho, as condições de trabalho, a "previdência", e um embrião de um direito laboral foi fixando horários, salários, regras, descontos, faltas, doenças, obrigações, e, palavra maldita, do direito nasceram direitos adquiridos.

Estamos a falar de cem, cento e cinquenta anos, mas saímos deste mundo há pouco mais de cinco décadas, com muito sofrimento, esforço e trabalho, consolidando melhorias e direitos. Na década de sessenta, a vida começou a melhorar muito lentamente. A emigração representou a válvula de escape para muita desta miséria, e na França, na Alemanha, como antes no Brasil e Venezuela. Uma lenta mas construtiva industrialização, iniciada nos anos cinquenta, e uma política de "fomento" permitiram, junto com a economia colonial acicatada pela guerra, algum progresso material. E Marcelo Caetano deu a reforma aos rurais e o 25 de Abril o resto. 

Foi um processo lento e nalguns aspectos pouco amável, que incluiu uma revolução e alguma violência, cá e principalmente em África. Conseguimos uma muito razoável integração dos "retornados", mais eficaz pela plasticidade da sociedade portuguesa do que o que aconteceu em França com os pieds noirs. Acabámos com os frutos malditos da pilha de ouro entesourada no Banco de Portugal, a mortalidade infantil, o analfabetismo, a pobreza, a absoluta desprotecção face aos infortúnios do trabalho e da vida.

Melhorámos alguma coisa, mas não muito. Mas foi tudo muito lento e muito tarde, o que significa que os portugueses mais velhos ainda têm uma memória viva, muito provavelmente biográfica, desta pobreza ancestral. Mesmo os que já não a viveram sabiam pelos seus pais e avós que era assim, e isso significa, ao mesmo tempo, um certo conformismo e alguma revolta.

O último tempo onde mais negra foi a miséria portuguesa que ainda pode ser lembrado pelos vivos foi por volta de 1943, o ano em que houve um excedente da balança comercial que a imbecil ignorância actual se permite louvar, sem saber do que está a falar. Ter havido excedentes na balança foi bom, a razão por que isso aconteceu foi péssima. É essa fractura entre a abstração e a realidade que torna obrigatório viajar pelo passado por causa do presente. Tudo é muito diferente, mas também muita coisa é demasiadamente igual. Esperemos que em 2013 não se torne ainda mais parecida. 

(Versão do Público de 22 de dezembro de 2012.)

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24.12.12


EARLY  MORNING BLOGS   

 

2286 - The Oxen

 
Christmas Eve, and twelve of the clock.
    "Now they are all on their knees,"
An elder said as we sat in a flock
    By the embers in hearthside ease.

We pictured the meek mild creatures where
    They dwelt in their strawy pen,
Nor did it occur to one of us there
    To doubt they were kneeling then.

So fair a fancy few would weave
    In these years! Yet, I feel,
If someone said on Christmas Eve,
    "Come; see the oxen kneel,

"In the lonely barton by yonder coomb
    Our childhood used to know,"
I should go with him in the gloom,
    Hoping it might be so.

(Thomas Hardy)

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23.12.12


O PRÉMIO NOBEL DA PAZ 

 De todos os prémios Nobel o mais desprestigiado é o da Paz. Tantas vezes entregue ao sabor das modas políticas, o Prémio Nobel da Paz tornou-se um arremedo gratificante apenas para quem vive dessa indústria do politicamente correcto. Desse ponto de vista, foi bem entregue à União Europeia, uma sombra de uma sombra de uma sombra tornada visível nos dias de hoje como directório alemão. Ou seja, o prémio não só não premeia nada de substantivo, como ajuda a manter uma ficção que cada vez vai dar mais para o torto. Aquilo que é hoje a União Europeia, - uma extensão da política alemã, aceite por necessidade e não por liberdade, - não é líquido que seja sustentável na próxima década. A colecção de ressentimentos, que muitos hoje engolem por pura necessidade, virá ao de cima de forma tumultuosa. 

 A velha e já póstuma Comunidade Europeia foi feita pelos fundadores exactamente para não ser aquilo que é hoje, foi feita para garantir a paz através da partilha de recursos, da coesão e da igualdade das nações. Mas a essa Europa, que o merecia, ninguém deu prémio nenhum.

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22.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE 
 
 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM) 

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O MÉTODO: NO DIA SEGUINTE 


Depois, no dia seguinte, uma declaração ministerial, ou uma fuga de informações, anuncia a intenção do governo de proceder a uma nova vaga de austeridade moral, para combater os privilégios e repor a justiça social, que a neutra e preocupante estatística do dia anterior exigia. Não faltam exemplos, entre os quais os mais recentes se centram nos “estudos” que o primeiro-ministro disse ter sobre como é que o “estado social” beneficia em primeiro lugar os que menos precisam, e sobre o severo número de dias de subsídio de desemprego pagos na Europa, por comparação com os excessos sumptuários dos portugueses, o que é pura e simplesmente falso.

 Já disse e repito outra vez: as armas da retórica do poder assentam nas velhas técnicas da omissão da verdade e da sugestão de falsidade, a que se soma a velhíssima mentira. É por tudo isto, e pela facilidade de circulação de tudo isto (como já se passava com as estatísticas optimistas de Sócrates) que o espaço público é um lugar muito mal frequentado em Portugal.

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O MÉTODO: NO DIA ANTERIOR 

"Quando o dinheiro da família acaba não se pode ir ao casino porque não tem dinheiro para jogar." (Passos Coelho)

É sempre o mesmo. Num dia assiste-se á divulgação de um relatório qualquer, com algumas estatísticas selectivas, cuidadosamente sublinhadas, em muitos casos de organizações com uma agenda ideológica e politica, e noutros casos manipuladas de forma grosseira, quando não falsas. O conteúdo é invariavelmente o mesmo: Portugal é um país de privilegiados, os funcionários públicos são os que tem mais regalias na Europa, os operários os mais bem pagos, os dias de férias mais numerosos, os subsídios abundam, um estado social falido despeja a sua cornucópia de abundância sobre gente que não quer trabalhar e espera tudo do paternalismo estatal. É o casino. 

Depois do resumo distribuído pela LUSA, ou passado ao Correio da Manhã, de tais alarmantes números e constatações, os blogues ligados ao poder, muitos escritos por assalariados directos do governo, explodem de indignação. Imaginem lá até as mamas implantadas recebem subsídios! O mundo estaria a acabar se não fosse a determinação de Passos Coelho, Gaspar, Borges e Relvas (este é citado mais prudentemente…) em corrigir os desmandos do “regabofe” que, de Cavaco a Sócrates, mais os vícios de dependência dos portugueses, levou o país á bancarrota. 

Depois, a comunicação social divulga sem verificação, sem contraditório e sem ouvir quem sabe sobre essas matérias ou porque as estudou, ou as ensinou toda a vida, ou escreveu livros, essa forma anti-mediática de expressão que dá muito trabalho a ler em vez de uma rápida procura no Google. Muitas vezes, em debates fora do prime time, quem verdadeiramente sabe sobe pelas paredes acima para tentar repor a verdade, mas não vale a pena. O sistema foi feito para a mentira conveniente e uma série de profissionais dessa mentira, em nome do marketing e da assessoria de comunicação, estão aconchegados nos gabinetes ministeriais, para fazer essa sale besogne de nos enganar. 

(Continua.)

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EARLY  MORNING BLOGS   

 

2285 - Dear Corporation

                        I don't know how to say how I feel politely, or poetically, or without the jugular and collapse of the immediate heart, so tonight, I won't say anything at all. Just stare out the window at our stunned little writhe. Hold back the strongest urge to knock out a few of the capitol's most critical walls, replace its fiber optic cables with lightning bugs, replace the investment bankers all with bunker busters. I lock eyes with the capitol's bright and empty rooms and admit that, sometimes, deep in my affluent, American cells, I miss my body carved to projectile. I miss trebuchet shoulders and knuckles flaked to arrowheads, miss my hands massive and molded from molten to the bolts of ballistas. I miss blackjack and cudgel and quarterstaff and flintlock. I miss pummel and pike and I am not proud of this. I know it's not a healthy feeling. I try to un-arm, to un-cock. I try to practice my breathing. I try The Master Cleanse, The Stationary Bike, The Bikram Sweat, The Contortion Stretch, The Vegan Meatloaf, The Nightly, Scorching Bath, The Leafy Greens and Venom Television, The Self-Mutilation of a Winter's Run, but we can only cleanse our bodies so much before we realize it's not our bodies that need detoxing.

(Adam Fell)

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17.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM) 

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16.12.12


EARLY  MORNING BLOGS   
 
2284The time is out of joint
Let us go in together,
And still your fingers on your lips, I pray.
The time is out of joint—O cursèd spite,
That ever I was born to set it right!
Nay, come, let's go together.


(Shakespeare, Hamlet)
 

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15.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE 


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM) 


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DEZ TENDÊNCIAS PARA 2013



1.De mal a pior - Esta é a mais sólida tendência para 2013. Tudo o que está suficiente será medíocre. Tudo o que está mau ficará pior. Pobreza, desemprego, economia, dívidas, falências, direitos, liberdades, garantias, corrupção, ataques à democracia.


2. O "exercício" vai ter maus resultados - O primeiro-ministro chama "exercício" à governação, incapaz de escapar a uma mescla de economês com a linguagem escolar que o caracteriza. O "exercício" é o Orçamento, no "país de programa" que é Portugal. A devastação intelectual do vocabulário corrente no poder é apenas mais um sinal do nosso empobrecimento, da impregnação do espaço público por um vocabulário de má consultora. Mas como vai ser possível insistir no mesmo quando o "exercício" falhar? Vai. Vai, porque eles só sabem fazer isto e não sabem o que fazem. O país corre o risco de ser entregue aos que se seguem em muito pior estado do que foi recebido em 2011. Em Paris vai haver um aprendiz de filósofo que se vai rir. Sem desculpa.


3. Haverá novos planos de austeridade - Tão certo como dois e dois serem quatro. O primeiro chama-se pomposamente "refundação do Estado" e recairá directamente em cima dos funcionários públicos e dos pensionistas e indirectamente sobre os portugueses que mais precisam dos serviços públicos, educação, saúde, Segurança Social. Será anunciado em Fevereiro como um plano aberto para discussão até Agosto, mas tudo já está decidido: cortar quatro mil e 500 milhões de euros permanentemente. Depois, em seguida, haverá novos planos de austeridade, sempre que os números do "exercício" falharem. 


4. A Grécia aqui tão perto - A situação grega caracteriza-se, em linhas muito simples, pela conjugação de números de "contabilidade criativa" apresentados a Bruxelas desde a entrada no euro, pela instabilidade política e maiorias muito frágeis, pela incapacidade de os governos cumprirem o que acordam com a Comissão, o BCE e o FMI, por uma dívida gigantesca, pela inexistência de uma fiscalidade eficaz, por muita corrupção, pela turbulência na rua, manifestações em série e greves, pela existência de lóbis e corporações poderosas e pela quebra maciça do poder de compra da população e crescimento da pobreza exponencial nos últimos anos de "programa".
Em que é que Portugal é diferente, ou vai a caminho de ser diferente? Números criativos existiram nos últimos orçamentos Sócrates, embora numa dimensão mais benigna. Instabilidade política é menor em Portugal, mas a coligação é uma ficção muito frágil. A dívida é igualmente gigantesca em Portugal e está a aumentar. O incumprimento do acordado com a troika no défice, o aspecto central do "ajustamento", é total. A nossa fiscalidade tornou-se mais eficaz na última década, mas pouco pode fazer contra a fuga generalizada aos impostos, por fraude ou por absoluta necessidade. A economia paralela está a crescer. As ruas portuguesas são mais calmas do que as gregas, mas uma minoria violenta começa a aparecer. Uma quebra maciça do poder de compra da população e o crescimento da pobreza exponencial nos últimos anos de "programa" existe em Portugal numa dimensão semelhante à grega, com tendência para ser igual em 2013-4. A corrupção grega e portuguesa atingem extractos diferentes da população, a nossa tende hoje a ser mais da "alta", mas no seu conjunto está a agravar-se. Na verdade, muitos números são piores na Grécia do que em Portugal, mas não parece haver nenhuma diferença qualitativa entre as duas situações. A tendência é para Portugal ficar cada vez mais "grego" à medida que o tempo passa.


5. Vai tudo parar aos tribunais - Em 2013, tudo vai parar aos tribunais com uma intensidade até agora nunca vista. Autarquias, sindicatos, políticos, grupos de cidadãos, indivíduos vão invadir os tribunais, dos tribunais comuns ao Tribunal Constitucional, com queixas e reivindicações sobre atropelos, direitos, garantias, abusos, que o Governo, o Estado, a maioria, tem vindo a fazer. Desde decidir se é legítimo a candidatos apresentarem-se a eleições após mais de três mandatos até à extinção de freguesias, ou à equidade orçamental, rendas, avaliações, IMI, IRS, impostos, direitos laborais, violações da lei, violação de contratos, etc., tudo vai parar aos tribunais. É um processo muito arriscado e delicado: por um lado, ameaça politizar os tribunais; por outro, representa a ultima instância que pode garantir direitos e garantias e combater injustiças e ilegalidades por parte do Estado e do Governo.


6. O PS continua no limbo - Enquanto o PS tiver à sua frente António José Seguro, e for aquilo que é, Seguro estará para Passos Coelho como Passos Coelho esteve para Sócrates. Do mesmo modo que Passos Coelho e Relvas, frutos do aparelho, descaracterizaram o PSD como partido social-democrata, e Portas faz equilíbrios no arame para o mesmo não acontecer no CDS como partido democrata-cristão, Seguro transformou o PS numa coisa amorfa e mole, sem sentido nem direcção. Isso significa que a sua governação será muito semelhante à de Passos Coelho em três aspectos fundamentais: trará o aparelhismo para o Estado, será subserviente face aos poderes fácticos, em particular a banca, e será muito incompetente. Como isso não entusiasma ninguém, poderá lá chegar apenas pelo mesmo fenómeno de rejeição do anterior Governo que levou lá Passos Coelho. Mas um remake é sempre pior do que o original, e o PS caminha para um desastre mais anunciado e rápido do que o PSD em 2011.


7. A coligação não é uma coligação é um ajuntamento de conveniência - A coreografia da diferença e demarcação que deputados e governantes do CDS fazem todos os dias, a começar por Portas, é penosa de se ver. Quando discursam é para elogiar ministros do CDS, quando se calam é para abafar com o seu silêncio a discordância activa que mantêm com Passos Coelho e Gaspar. Não vai acabar bem, mas também já não está bem de todo. 


8. O que sobra das nossas Forças Armadas não vai servir para nada - A "refundação do Estado" vai atingir ainda mais as Forças Armadas, o que é facilitado pela nula empatia dos governantes vindos das "jotas" pela instituição militar e pela crescente deslegitimação da própria existência de forças militares. Como a cada corte elas se tornam mais frágeis, aparecem cada vez como mais inúteis, e perdem razões de existência. Um dia, quando Portugal precisar de concorrer a um comando estratégico para os nossos interesses nacionais, ou defender a nossa ZEE, vai ver o que lhe falta, mas será tarde.


9. Os negócios entre a elite no poder vão continuar frutuosos - O nosso establishment do poder, partidos - sector financeiro -, administração superior e Governo, vai continuar a fazer o que sempre fez. A forma como o faz muda, havendo agora uma centralidade do sector financeiro correlativa da maior fragilidade dos outros sectores económicos. A banca é hoje parte inteira da governação, definindo activamente os limites das decisões governamentais e detendo um efectivo poder de veto. As privatizações e o "ajustamento" são enormes oportunidades que estão a ser aproveitadas. Elas permitem também alguma circulação das elites, entre a área governamental, essa importante plataforma de intermediação que são as sociedades de advogados e as consultoras, e os lugares de confiança nas grandes empresas. Aqui dominam as personalidades com fortes ligações à política que vivem na órbita dos partidos, mas acham que lhes são superiores. Os aparelhos partidários estão por regra na parte intermédia e baixa da cadeia alimentar, mas estão bem aí ancorados. Nos partidos, o acesso ao poder continua a permitir a constituição de empresas cujo objectivo é usufruir das ligações privilegiadas para obter fundos e benesses. Antes era a área da formação a mais importante, hoje isso faz-se à volta de empresas de comunicação, marketing, assessoria e consultadoria, mas o esquema é o mesmo.


10. O "bom povo português" vai ficar mau - A razão é muito simples: não aguenta. Nem vale a pena perder tempo e palavras com isto. Está escrito nas estrelas. 

(Versão do Público de 8 de Dezembro de 2012.)

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14.12.12



ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
 
 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO

CARIDADE E SOLIDARIEDADE 

Evitei entrar na primeira polémica resultante das palavras de Isabel Jonet, embora não tivesse nenhuma dúvida sobre o seu significado “mental” e sua história. Mas Jonet faz uma obra de mérito, e a obra vale mais do que a “teoria”, pelo que alguma moderação era exigida. Há casos em que apesar de se pensar mal, se faz bem. Não abundam, mas existem. Mas, como disse, não tinha qualquer dúvida de que memória é que vinham as suas afirmações, que seriam sensatas se não fossem ditas no contexto da actividade caritativa e do actual discurso governamental sobre como “os portugueses vivem acima das suas posses”. Vinham de ideias como as que caracterizaram cinquenta anos de pensamento sobre a pobreza em Portugal, expressas na frase brutal, mas actualíssima, “leve lá uma esmola, mas não gaste em vinho”. 

POLITIZAR A CARIDADE 

Jonet em vez de ter percebido o mal que está a fazer à sua própria obra, – e que, como é óbvio, não pode ser medido pela contribuição generosa dos portugueses, que também sabem fazer distinções, - resolveu insistir e teorizar. Está com isso a politizar no pior sentido a actividade do Banco Alimentar e a prejudicar o esforço da única instituição que a nível nacional actua com genuíno sentido de “caridade”, a Igreja. Quem escreve estas linhas propôs, em tempos ainda socráticos, que os fundos que o estado disponibiliza para a assistência fossem atribuídos a instituições da Igreja que sabem muito melhor a quem eles devem chegar e com maior eficiência. E não mudei de opinião. Tenho porém poucas dúvidas que algumas das pessoas mais preocupadas com a crescente politização do discurso de Jonet são os bispos, que conhecem a realidade portuguesa muito melhor: no aspecto assistencial, social e político. E sabem o papel que teve a doutrina social da Igreja na transição da caridade para a solidariedade, da evolução da assistência paternalista para os direitos sociais. 

Para não ir mais longe, Sá Carneiro não só perceberia de imediato o que Jonet está a dizer, como o recusaria sem dúvidas em nome da sua formação humanista e religiosa, as duas. Sá Carneiro, e isso ficou inscrito no programa original do PSD, valorizava o papel que a dignidade humana tinha e, se não reduzia o “homem”, na sua dimensão transpolítica, ao conceito de “cidadão”, também não substituía os direitos pelas benesses da caridade, por muito dedicadas e esforçadas que sejam. A caridade é para quem precisa e muito, mas a solidariedade social é um fundamento do estado moderno, pensado por democratas-cristãos e social-democratas. E os direitos “adquiridos” são uma identidade da “melhoria” colectiva das sociedades, fruto da justiça social e dadores de dignidade e de liberdade. 

 SUBSTITUIR DIREITOS PELA ASSISTÊNCIA 

O que Jonet disse ao i foi o oposto. Valorizou a caridade no sentido tradicional cristão, o que em nada me choca. A semana passada usei a mesma palavra nesta coluna, no mesmo exacto sentido de “agape”, para falar da obrigação que sentia de escrever sobre a crise. Mas não parto daí para a ideia que se deva contrapor a caridade à solidariedade, a boa vontade voluntária do “amor” assistencial face à obrigação social do estado. É o que Jonet diz: 
A solidariedade é algo mais frio que incumbe ao Estado e que não tem que ver com amor, mas sim com direito adquiridos. (…) Sou mais adepta da caridade do que da solidariedade social… 
 Na verdade, a “caridade” não é “quente” devido ao “amor”, face ao “frio” da solidariedade do estado, porque não são a mesma coisa, a não ser que a caridade cometa o pecado de se vangloriar de si mesma, ou seja, assumir uma vaidade mundana, e violar o preceito bíblico de que “não saiba a tua mão esquerda, o que faz a direita”. Então a caridade deixa de ser “amor” para ser uma proposta política de organização da sociedade. 

 Este tipo de comparações levariam a uma sociedade em que a exclusão seria institucionalizada como poder, em que os problemas sociais seriam resolvidos pela dádiva dos mais ricos aos mais pobres, o que contém implícita uma ideia sobre o poder “natural” da sociedade e sobre a relação paternalista entre os que têm e os “seus” pobres, a quem, no passado ainda próximo, o diminutivo colocava no lugar, os “pobrezinhos”, crianças grandes, pobres mas “honrados”, nas suas casinhas humildes, mas limpas. Este tipo de ideias sobre a pobreza são ofensivas da dignidade humana e implicam uma relação humilhante entre quem dá e quem recebe, em particular quando a caridade se mistura com “conselhos” de como se deve viver, uma arrogância moral insuportável face a quem não pode viver como queria. “Leve lá uma esmola, mas não gaste em vinho”. 

POBREZA E VERGONHA 

Por que é que as pessoas “escondem” a sua pobreza quando caiem nela? É porque recorrer à caridade pode ser uma necessidade imperiosa, mas é uma perda de dignidade social e humana, uma humilhação. É uma “vergonha”. É por isso que quem em política pensa como Jonet, tende a desvalorizar o imenso sofrimento que a crise está a provocar, nas suas dimensões psicológicas e humanas, muito para além das necessidades básicas de casa, comida, luz, água e transportes, medicamentos e roupa. Porque quando é assim, e é o que Jonet anda a fazer com as suas declarações, elas não são sobre a caridade, mas sobre a sociedade e a política e devem ser discutidas como tal.

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EARLY  MORNING BLOGS   
 
2283

It is better to leave a vessel unfilled, than to attempt to
carry it when it is full. If you keep feeling a point that has been
sharpened, the point cannot long preserve its sharpness.

When gold and jade fill the hall, their possessor cannot keep them
safe. When wealth and honours lead to arrogancy, this brings its evil
on itself. When the work is done, and one’s name is becoming
distinguished, to withdraw into obscurity is the way of Heaven.


(D.H. Lawrence)

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13.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
 
 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY  MORNING BLOGS   
 
2282 - Ludwig van Beethoven's Return to Vienna
 
Oh you men who think or say that I am malevolent, stubborn, 
or misanthropic, how greatly do you wrong me....
 The Heiligenstadt Testament

Three miles from my adopted city 
lies a village where I came to peace.
The world there was a calm place, 
even the great Danube no more 
than a pale ribbon tossed onto the landscape
by a girl's careless hand.  Into this stillness 

I had been ordered to recover.  
The hills were gold with late summer;
my rooms were two, plus a small kitchen, 
situated upstairs in the back of a cottage 
at the end of the Herrengasse.  
From my window I could see onto the courtyard 
where a linden tree twined skyward — 
leafy umbilicus canted toward light, 
warped in the very act of yearning —
and I would feed on the sun as if that alone 
would dismantle the silence around me.

At first I raged.  Then music raged in me,            
rising so swiftly I could not write quickly enough 
to ease the roiling.  I would stop 
to light a lamp, and whatever I'd missed — 
larks flying to nest, church bells, the shepherd's 
home-toward-evening song — rushed in, and I
would rage again.  

I am by nature a conflagration; 
I would rather leap 
than sit and be looked at.
So when my proud city spread  
her gypsy skirts, I reentered,  
burning towards her greater, constant light.
 
Call me rough, ill-tempered, slovenly— I tell you, 
every tenderness I have ever known 
has been nothing 
but thwarted violence, an ache 
so permanent and deep, the lightest touch 
awakens it. . . . It is impossible 

to care enough.  I have returned 
with a second Symphony 
and 15 Piano Variations
which I've named Prometheus,
after the rogue Titan, the half-a-god 
who knew the worst sin is to take 
what cannot be given back.

I smile and bow, and the world is loud.  
And though I dare not lean in to shout 
Can't you see that I'm deaf? —
I also cannot stop listening.
(Rita Dove)

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10.12.12



PONTO DE NÃO RETORNO

 Há um aspecto desta crise que está longe de ser enunciado e analisado: é que ela é para milhões de portugueses um ponto sem retorno. Ou seja, nunca mais vão deixar o nível de pobreza em que estão a ser mergulhados. Mesmo que possa haver a prazo médio ou longo alguma recuperação económica e do emprego, não será para eles, nem no seu tempo, nem nas suas oportunidades. Para estes é que, em primeiro lugar, a crise é mais trágica, definitiva, cruel. E não há nem uma palavra, nem uma acção que os possa salvar. 

Estou a falar das pessoas e das famílias que o desemprego, os impostos, os salários e o custo de vida vão atirar para a linha abaixo da pobreza. Como é que a vão ultrapassar de novo na sua vida útil? Sim, na sua vida útil, que é o que conta. Vai haver emprego para os actuais desempregados? Nunca, jamais, em tempo algum, podem esperar voltar a ter emprego. Se alguma recuperação existir no emprego, será muito pequena e favorecerá os mais novos, e novos aqui é na casa dos vinte anos. Vão conhecer uma vida mais barata, preços mais baixos da renda, da luz, gaz, água, transportes? Nunca, jamais, em tempo algum, tal é previsível nas próximas décadas. Vão poder por milagre pagara as suas prestações e dívidas? Com que dinheiro? Vai diminuir a carga fiscal? Talvez daqui a cinco, dez anos, na melhor das hipóteses, mas sempre pouco. Os impostos têm a característica de se instalarem para a eternidade. Os estragos feitos em 2013, 2014, são para já suficientes para destruírem milhares de pequenas empresas e lançarem na insolvência milhares de família. Como é que se volta atrás? O governo não sabe como, nem quer saber. É o “ajustamento”.

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SUBSTITUIR DIREITOS PELA ASSISTÊNCIA

Para esses portugueses, há que substituir direitos, essa coisa dos proto-comunistas, mal habituados ao seu salário e ao seu contrato, por caridade púbica, assistência social e comida do Banco Alimentar. É assim que eles estão bem, impossibilitados de se defenderem, face a um governo que quebra os contractos unilateralmente com os mais fracos, usa o seu dinheiro descontado nos salários para a reforma a seu belo-prazer, domados na sua dignidade e envergonhados de si próprios. E a cada acto público de caridade, têm que ouvir essa ancestral frase: “leva lá essa esmola, mas não gastes em vinho”.

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VINGANÇA 

Eu sei bem o peso semântico de uma palavra como vingança, mas não posso escapar-lhe. Quando lemos e ouvimos o actual discurso do poder, em toda a sua extensão, do primeiro-ministro, da maioria dos governantes (nem todos), do establishment do poder aos blogues serventuários, à escrita e ao comentário de bajulação e de legitimação, percebe-se um tom revanchista que transpira por todo o lado. Pode ser a pretexto de Sócrates, do PS, dos grevistas, dos estivadores, dos funcionários públicos, do Estado, dos que querem continuar “como dantes”, dos que “tem direitos a mais”, dos que querem esconder-se atrás do “escudo de uma Constituição obsoleta”, dos que não querem sair da sua “zona de conforto”, mas é na verdade sobre Portugal e os portugueses que se usa esse tom. Os portugueses têm de mudar de vida pela pobreza e pela virtude, pelas ideias simples e rudimentares de quem nunca passou de vagas e ignorantes noções obtidas pelas modas nos media e nos blogues, alicerçada depois pela vaidade das companhias “certas” dos grandes do mundo. Por isso, o espírito de vingança está lá, contra os portugueses que apanharam todos no maior charter do mundo e foram ao México passar férias em Acapulco, andar de sombrero, ouvir mariachis e beber tequila e por isso devem ser agora punidos colectivamente por um retorno à pobreza purificadora.

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ESCAPISMO 

Não há nesta matéria um “bom” escapismo, só escapismo. E o escapismo ajuda os poderosos a legitimarem aquilo que é ilegítimo: uma espécie de vingança colectiva contra a maioria dos portugueses, tidos como culpados dos desmandos dos seus governantes, por egoísmo, por pieguice, por que não tem espírito de empreendedores, porque estão habituados ao bom e ao melhor e a viverem “acima das suas possibilidades”.

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ESCREVER SOBRE A CRISE 


Estamos todos fartos de escrever sobre a crise, e eu em particular. Mas existe uma certa obrigação ética e “crítica” em fazê-lo, até porque isso é uma obrigação de comunhão e testemunho com os nossos concidadãos e com a nossa comunidade. Repare-se na abundância do prefixo “co”, com. É isso mesmo. Esta é uma obrigação que não é apenas racional, não emana da verificação de haver boas ou más políticas, e da sua identificação crítica, mas emana de um domínio afectivo de se querer “estar com”. Se o nosso catolicismo não estivesse tão impregnado de hipocrisia, e a palavra não estivesse adulterada pelas piores práticas, é isso que significa “caridade”, o “agape” dos gregos, a que se soma o “testemunho”. Esta última palavra tem uma origem que pode surpreender muita gente, - vem de “testículos”, - e num certo sentido agora é que se vai ver quem os tem ou não tem. Esta combinação serve-me e obriga-me a continuar a escrever sobre a crise. 

(Continua.)

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  HOJE DE NOVO 
Foi publicada a primeira nota sobre as eleições autárquicas de 2013 (CDS de Torres Vedras), numa altura em que várias pré-campanhas já estão em curso. Nas eleições de 2009, o EPHEMERA publicou materiais de mais de dois terços dos concelhos, a maior cobertura jamais feita na Rede e fora dela de umas eleições deste tipo,  muito difícil dada a dispersão geográfica e a diversidade de candidatos, partidos e campanhas independentes. Foi um esforço colectivo em que participaram cerca de 100 amigos do EPHEMERA de todo o país. Muitos materiais de 2009 estão ainda por publicar, assim como muitos outros de campanhas anteriores existentes em arquivo. Vou tentar garantir a publicação de maior número desses materiais antes das eleições de 2013 (já foi feito para os Independentes de Tomar, o PS em Ovar, várias freguesias de Vila Nova de Gaia, o PS e o CDS de Vila Real), mas RENOVO DESDE JÁ O APELO A TODOS OS AMIGOS E COLABORADORES PARA  SE COMEÇAR A RECOLHA.
 
Notícias sobre um importante espólio:

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EARLY  MORNING BLOGS   
 
 2281

« Révolution : c’est retourner le sablier. » 

(Jean Dubuffet)

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9.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
 
 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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8.12.12


EARLY  MORNING BLOGS   
 2280 -  Lunar Paraphrase

The moon is the mother of pathos and pity.

When, at the wearier end of November,
Her old light moves along the branches,
Feebly, slowly, depending upon them;
When the body of Jesus hangs in a pallor,
Humanly near, and the figure of Mary,
Touched on by hoar-frost, shrinks in a shelter
Made by the leaves, that have rotted and fallen;
When over the houses, a golden illusion
Brings back an earlier season of quiet
And quieting dreams in the sleepers in darkness—

The moon is the mother of pathos and pity.


(Wallace Stevens)

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© José Pacheco Pereira
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