ABRUPTO

17.6.11



COISAS DA SÁBADO: O CHEIO E O VAZIO


 VAZIO: O PROGRAMA

O PSD tem um programa, uma novidade positiva no meio da vacuidade dos “manifestos” que passam por programas. Já disse sobre ele o que penso: o seu sentido e muitas das suas medidas são positivas, mas contém uma boa dose de irrealismo, em particular quando se aproxima da realidade com uma mentalidade “empresarial”, em vez de o fazer em termos políticos. Mostra também alguma ignorância sobre o estado, a sua forma e o seu papel em Portugal. A realidade surgirá a seu tempo, quer a “boa” realidade (os factos da vida são os factos da vida) quer a “má” realidade (pressões e grupos de interesses, corporativismos) e colidirá de frente com as abstracções. Mas, seja como for, é o programa do governo, está legitimado eleitoralmente e espera-se que, com realismo, seja cumprido.

Só que há uma ilusão que não se deve ter ou caímos no vazio de que falamos: não se pense que os eleitores votaram explicitamente no programa eleitoral do PSD, como escolha substantiva, como algo que desejam ver cumprido, como algo para que se mobilizem. Não, os portugueses votaram contra José Sócrates e só tocaram na questão do programa quando ela era instrumental contra Sócrates. Por exemplo, aceitaram a troika porque entendiam que mais valia um governo de fora capaz do que um governo de dentro incapaz, e a similitude de medidas entre o Memorando e o PSD favorece a legitimação deste último. Mas ilude-se quem pensa que os portugueses acham normal pagar a saúde ou o ensino, pagar portagens ou ter que andar trinta quilómetros para ter um médico, ou que vão aceitar pagar os preços reais dos transportes. Isso não votaram certamente. E é o que vão ter.

E depois, há que não confundir entre o que os portugueses acham que é o estado “gordo” e o que o PSD acha que é. Uma vaga de anti-estatismo percorreu, e percorre, a sociedade portuguesa. Mas esse anti-estatismo não é liberal, é populista. Olha para o estado e vê administradores, assessores, carros do estado, regalias, prebendas e alguns funcionários públicos com o emprego garantido e que “não fazem nenhum”. Uma perigosa confusão - muitas vezes deliberada, pelo seu retorno eleitoral - foi feita entre a redução do peso do estado e a luta contra os privilégios e abusos.

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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