ABRUPTO

26.2.10


COISAS DA SÁBADO:
O GOVERNO QUE NÃO CONHECEMOS E QUE NÃO VAI A VOTOS



Um dos factos que tem transparecido das informações que se vão conhecendo sobre os aspectos adjacentes ao processo Face Oculta (e não me refiro apenas às escutas) é que há outras coisas ocultas que não apenas os negócios da sucata. Essas outras coisas são uma espécie de governo também ele oculto, que não vai a votos, mas onde se concentra muito poder. Esse governo oculto escapa à estrutura e orgânica do governo visível e estende-se em redes de poder e influência que vão dos gabinetes às empresas públicas e mesmo nalguns casos a empresas privadas “amigas”. Ele é o resultado de uma tendência sobre a qual já escrevi e que se tem acentuado muito significativamente: a interpenetração da decisão política na decisão económica, a miscigenação dos negócios com os gabinetes ministeriais e as grandes empresas que são conduzidas politicamente pelo governo. Esta é uma importante evolução, iria dizer modernização, do poder do “bloco central”, mas após quase década de meia de governos socialistas é mais PS do que PS-PSD. Os dois estão lá. Mas um está como colosso e o outro como anão.

Este governo oculto depende mais de solidariedades partidárias do que de qualquer outra lógica, serve para dar empregos e carreiras e prestar serviços de todo o tipo, económicos e políticos. Carreiras invisíveis para a opinião pública, de personagens secundárias a não ser nos “serviços” prestados ao partido. Aparecem como detentoras de grande poder, passando por cima de muitos outras pessoas, algumas com nome, mas que parecem que só emprestaram o nome e recebem os proveitos, sem serem tidas nem achadas em negócios de milhões. Claro que não podiam ignorar, a não ser que a lógica do sistema fosse os seus nomes servirem de cigarras para tapar as formiguinhas diligentes que trabalham para si próprios e para o “chefe”. A perversão de todo este sistema de governo oculto, que se estende do PS para a administração, para as empresas públicas, para os “amigos” no privado e na comunicação social, é uma ameaça para a democracia, porque nada disto tem o necessário escrutínio. Já nem sequer me refiro ao escrutínio judicial, que todos tememos ficar à porta de redes de influência muito poderosas, nem ao político, para o qual a ausência do primeiro deixa tudo manco. É, é o polvo, um bicho simpático e inteligente que não merecia servir para descrever estes tentáculos.

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© José Pacheco Pereira
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